sábado, 27 de abril de 2024

Testemunha ocular da história – por Pacheco Maia

“Testemunha ocular da história”. Esse era o slogan do Repórter Esso, “o primeiro a dar as últimas”. Vivia-se a Segunda Guerra Mundial, quando o noticiário radiofônico passou a ser transmitido no Brasil. Bancado pela Standard Oil, petroleira dos Rockfeller, o informativo era uma das estratégias da política de boa vizinhança norte-americana. Noticiava pelas ondas médias em emissoras oficiais a versão aliada da guerra em reação à contrainformação dos países do eixo, que nos chegava pelas ondas curtas.

Além de deixar informada a população brasileira sobre os acontecimentos da guerra, o Repórter Esso teve um locutor que virou mito. Heron Domingues, a voz do noticiário, chegou a improvisar um quarto próximo ao estúdio da Rádio Nacional para ser o primeiro a informar o fim do conflito mundial. Quando foi oficializado o armistício, no entanto, ele tinha ido pra casa. Acabou sendo “furado”, como se diz quando um concorrente divulga primeiro uma notícia, por outra emissora. Mas o mito prevaleceu. Para os fiéis ouvintes, o final da guerra só foi admitido depois de Heron Domingues o anunciar.

O Repórter Esso ainda teve o importante papel de introduzir no Brasil técnicas de redação de notícias para o rádio. Antes dele, praticamente se lia o que se publicava no jornal ou chegava por telegrama das agências noticiosas. Era um tal de intercalar frase sobre frase, distanciando tanto o sujeito do fato em si, que a compreensão oral, sem a chance de ouvir novamente, ficava muito difícil. Com frases curtas, ordem direta, objetividade, clareza e simplicidade, o Repórter Esso dava seu recado e fez escola no Brasil com seu manual de redação.

Que nariz de cera! Esse é outro jargão jornalístico e descreve a volta que dei para entrar no assunto. Testemunha ocular é como me sinto neste momento da história nacional. Veio o Repórter Esso à mente e acabei contando um pouco de sua história antes de entrar na minha. Então, quase 10 anos depois vejo a história se repetindo em farsa, como diz Karl Marx no 18 Brumário de Luiz Bonaparte. Lá no Século XIX, o sobrinho tentou restaurar o tio Napoleão. Agora no Século XXI, Lula tenta restaurar Lula.

Indiscutivelmente o grande momento do ex-sindicalista, eleito presidente da República, foi o seu segundo mandato, quando surfou a onda da bonança econômica até durante o maremoto da crise financeira mundial a partir de 2008. Mas, no primeiro quadriênio de poder presidencial (2003/2006), Lula foi alvejado pelo mensalão. Sangrou os dois últimos anos, mas, poupado pela misericórdia da oposição, não sofreu o devido impeachment e acabou vencendo as eleições.

Em 2007, com a conquista do segundo mandato e os ares da economia lhe soprando a favor, a jararaca engrossou o pescoço. É este o momento, no final daquele ano, que testemunhei em Brasília, durante o 79º Enic, Lula ser aclamado pelos empresários da construção, que aplaudiam de pé a todo aceno que o então presidente fazia ao desenvolvimento do setor, que há décadas vivia estagnado. Havia lançado o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e seus derivados.

A mãe do PAC era Dilma e a Petrobras, a generosa madrinha que financiaria os principais projetos para alavancar a economia nacional. O enredo desta história trágica a gente já conhece. O petrolão está aí com sua trama macabra e criminosa a ser desvendada diariamente pelas investigações da Operação Lava Jato, que já contabiliza bilhões de reais desviados para bancar um projeto de poder irresponsável, incompetente e corrupto.

A farsa da história eu assisti nas últimas semanas, quando o Sapo Barbudo assustado com o juiz Sérgio Moro, tenta virar príncipe de novo para salvar a própria pele. Com o desastre econômico causado no país pela irresponsável gestão de sua afilhada Dilma Rousseff e a crise ético-política resultante da Lava Jato, Lula se vê num verdadeiro mato sem cachorro. Todas as evidências o apontam como sendo o chefe da organização criminosa que arruinou o país.

O cerco se fecha sobre Lula. Além dos suspeitos cachês de palestras, há a omissão de patrimônio: um triplex no Guarujá/SP e um sítio em Atibaia/SP, os dois decorados e mobiliados graciosamente por empreiteiras envolvidas no petrolão. Convocado a prestar depoimento sob condução coercitiva, o Sapo Barbudo coacha ferozmente e se vitimiza. Exige proteção de sua afilhada e gratidão de procurador da República e ministros do Supremo, que assumiram os respectivos cargos na era petista.

O Sapo Barbudo tem o apoio da afilhada, que não hesita em lhe acoitar, dando-lhe o Ministério da Casa Civil. É a escapatória dele para livrar-se do jugo do juiz Sérgio Moro e ser julgado pelos camaradas do Supremo Tribunal Federal. Mas o povo lhe dá marcação cerrada desde o dia 13 de março. Mesmo mantida a sua nomeação e o direito ao foro privilegiado, ao querer se apresentar novamente como o salvador da pátria, Lula quer mesmo é salvar a sua própria pele. Das ruas de todo o Brasil, no entanto, ecoa o brado retumbante: Lula ladrão, seu lugar é na prisão! Fora Dilma!

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário às sextas-feiras no Toda Bahia. E-mail: pacheco.maia@todabahia.com.br

18 de março de 2016, 16:30

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