sexta-feira, 26 de abril de 2024

Tentando entender Levy – por Rommel Cavalcanti

Há pessoas que escolhem tarefas muito difíceis, quase impossíveis, para realizar em suas vidas. De tal forma que foge ao senso comum o entendimento sobre o real motivo de se escolher um caminho tão penoso e desgastante para alcançar certas pretensões pessoais.

Este parece ser o caso do ministro Joaquim Levy. Responsável por colocar alguma ordem no caos econômico em que se transformou o Brasil, ele representa um governo completamente desmoralizado e sem qualquer respaldo político para empreender medidas de ajuste fiscal que conduzam o país à porta de saída de uma das mais fortes crises de sua história.

E quem é este homem que se transformou numa das pessoas mais conhecidas do Brasil atualmente?
Joaquim Vieira Ferreira Levy nasceu no Rio de Janeiro em 1961. Graduado em Engenharia Naval pela UFRJ, é mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas – FGV (1987) e doutor em Economia pela Universidade de Chicago (1992). Foi professor de mestrado da FGV. Ocupou cargos no Fundo Monetário Internacional – FMI e foi vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID.

Atuou também na administração pública brasileira em diversas posições de destaque. Foi secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2000) e economista-chefe do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (2001), ambos os cargos exercidos no segundo governo Fernando Henrique. Foi, ainda, secretário do Tesouro Nacional entre 2003 e 2006 e Secretário da Fazendo do Rio de Janeiro entre 2007 e 2010.

Com um excelente currículo profissional como este, Levy foi seduzido pelo convite de Dilma para deixar o cargo de diretor-executivo da gestão de ativos do banco Bradesco, onde atuou entre 2010 e 2014, e assumir o Ministério da Fazenda. Certamente, este parece ser o maior desafio da sua carreira.

Levy tem tentado conciliar os conhecimentos e os princípios que domina na área econômica com o caos político da realidade brasileira atual. Entende, certamente, que o ajuste fiscal deve focar fortemente nos cortes de despesas, mas esbarra nos interesses de grupos políticos que se recusam a cortar gastos e a abrir mão de cargos públicos.

Nesse sentido, tem cometido verdadeiras heresias para um economista da sua linha. Propõe um orçamento deficitário em mais de 50 bilhões de reais e idealiza um pacote fiscal cuja medida de maior impacto é a recriação do imposto sobre transações financeiras.

Deve haver algum razão muito particular para que um bom profissional como Levy ainda se mantenha como ministro da fazenda buscando uma saída racionalmente improvável para a crise econômica. Talvez ele pretenda vencer este desafio, não da forma ideal, mas da melhor forma possível.

Pode ser que ele se entenda como um herói quixotesco, acreditando em uma vitória que o consagre contra tudo e contra todos. Por enquanto, contudo, não tem tido êxito em quase nada e sua aventura, se assim continuarem as coisas, pode acabar em um retumbante fracasso.

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

28 de outubro de 2015, 13:35

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