sexta-feira, 26 de abril de 2024

Pós-obesidade e cirurgia – por Dr. José Amandio

Como condição médica crônica com vários fatores desencadeantes, a obesidade envolve vários tipos de abordagens para seu tratamento. Os pilares principais do tratamento baseiam-se na orientação dietética, a programação de atividade física e o uso de fármacos anti-obesidade.

Entretanto, o tratamento convencional para a obesidade grau III continua produzindo resultados insatisfatórios, com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em até 2 anos. Devido a necessidade de uma intervenção mais eficaz na condução clínica de obesos graves, a indicação das operações bariátricas vem crescendo nos dias atuais.

Com esse crescimento, aumentou também o número de pacientes ex-obesos, que apresentam um perfil muito diferente e particular em relação aos demais pacientes. Apesar do grande benefício que agregou a sua saúde, precisam de uma atenção mais que especial.

Devido aos grandes excessos cutâneos, suas deformidades de contorno corporal são mais graves; alterações metabólicas e nutricionais são comuns nestes pacientes e podem gerar manifestações clínicas, em especial, a deficiência de ferro e a anemia; a deficiência de ferro tem como causas principais a diminuição da ingestão de ferro, diminuição da secreção de ácido gástrico e a diminuição do contato dos alimentos com a área absortiva de ferro dos segmentos de duodeno e jejuno desviados do trato gastrointestinal na cirurgia bariátrica podendo ainda ser maior em mulheres que menstruam; alterações fisiopatológicas de diversos sistemas podem persistir em algum grau a despeito da perda ponderal entre outros problemas.

As cirurgias plásticas de contorno corporal realizadas nesses pacientes, como a abdominoplastia pós-bariátrica, envolvem retiradas de grandes áreas de pele e tecido subcutâneo com rede vascular muito intensa. Estas cirurgias de maior porte, realizadas em uma população com predisposição para anemia, colocam o cirurgião plástico diante da possibilidade de transfusão de sangue em algumas situações. Maior risco de tromboembolismo requer profilaxia com bota pneumática, meias anti-trombos e muitas vezes anticoagulantes, assim como intervenções com tempo cirúrgico menos extenso.

Não devemos descuidar do quadro psicológico (status psiquiátrico) do paciente envolvido. Depressão e ansiedade, bem como outras doenças podem estar presentes. Muitos pacientes podem criar uma grande expectativa em relação aos resultados e isto deve estar bem claro para que não criem falsas expectativas, sofrimento ou se frustrem com o resultado obtido.

Felizmente, o aprimoramento das técnicas cirúrgicas, maior experiência e conhecimento do funcionamento fisiológico e conversa franca e realística com o paciente tem contribuído com o aumento do grau de satisfação. Só o tratamento e acompanhamento conjunto (cirurgia bariátrica, cirurgia plástica, nutrição, psicologia, enfermagem, fisioterapia, entre outros profissionais) permitirá um tratamento completo para essa complexa situação.

Dr. José Amandio é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialista em cirurgia plástica. Ele é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Santa Izabel e escreve quinzenalmente a coluna de saúde do Toda Bahia. E-mail: clinicajamandio@gmail.com

22 de novembro de 2015, 07:40

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