sexta-feira, 26 de abril de 2024

Os primeiros sinais da reversão – por Rommel Cavalcanti

Nem bem iniciamos o segundo semestre do ano e começaram a cintilar, embora discreta e timidamente, as primeiras luzes que podem conduzir a economia brasileira em direção à saída do túnel sombrio em que se meteu.

É bem verdade que ainda está muito cedo para abrir o champanhe e fazer grandes comemorações. Longe disso. Ainda vivemos um período de forte crise e permanecemos dentro de um buraco. Mas há alguns sinais que sugerem que estamos começando a parar de afundar, pelo menos com tanta velocidade, em um poço que parecia não ter fundo.

Em relatório divulgado nesta terça-feira (19), o Fundo Monetário Internacional – FMI aponta para uma perspectiva mais favorável à economia brasileira, após cinco documentos consecutivos em que em projeções só faziam piorar. Se, no último relatório, o FMI apontava para uma expectativa de queda do PIB neste ano da ordem de 3,8% e, para o ano que vem, nenhum crescimento, desta vez a publicação prevê uma queda menor do PIB em 2016 (de 3,5%) e um crescimento de 0,5% em 2017.

Este panorama de melhora não é vislumbrado apenas pelos economistas do Fundo Monetário. O Banco Central, em sua publicação semanal, o Boletim Focus, vem trazendo seguidas previsões de melhora em termos de desempenho da economia e índice de inflação. O último Boletim publicado traz uma expectativa de queda do PIB em 2016 de 3,25% e um crescimento de 1,10% para 2017, enquanto a inflação estimada para este ano ficou em 7,26% e em 5,30% para o próximo.

Conforme apontado no relatório do FMI, está havendo uma melhora nas expectativas dos agentes econômicos sobre as perspectivas da economia brasileira. A confiança de consumidores e investidores parece já ter chegado ao nível mais baixo e tende a apresentar uma recuperação de agora em diante. Algumas previsões mais otimistas, baseadas neste contexto, já apontam para um crescimento do PIB em 2017 superior a 2,50%.

Um bom termômetro para avaliar as atuais expectativas do mercado é o comportamento da bolsa de valores. O Ibovespa superou a marca dos 57 mil pontos e já acumula dez dias de altas consecutivas, o que não ocorria desde agosto de 2010. Só neste mês, a bolsa soma ganhos da ordem de 10,04%. No ano, os ganhos sobem para mais de 30%.

Não obstante todas essas perspectivas alvissareiras, as estimativas de variação do PIB da América Latina e Caribe são bem melhores que as do Brasil. Para a região, o FMI prevê uma queda de 0,40% do PIB em 2016 e um aumento de 1,60% em 2017. O México, segunda maior economia latina, crescerá 2,50% e 2,60% nesses dois anos.

As diferenças são ainda maiores com relação à economia global, que deverá crescer 3,10% este ano e 3,60% no próximo. Considerando as 16 maiores economias do mundo, o Brasil terá o pior desempenho em 2016 e o segundo pior de 2017, superando somente o Japão, cuja estimativa de crescimento do PIB é de apenas 0,1%, de acordo com o citado relatório.

Portanto, embora comecemos a vislumbrar alguns sinais de perspectiva de reversão da crise econômica brasileira, ainda é muito cedo para afirmar que iniciamos um inexorável processo de recuperação, principalmente considerando o quadro que ainda persiste de indefinição política e a necessidade de implementação de medidas impopulares que promovam o ajuste fiscal e conduzam ao equilíbrio das contas públicas.

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

20 de julho de 2016, 07:30

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