O que nos mostra o IDH do Brasil – por Rommel Cavalcanti
Na última segunda-feira (14), foi divulgado o mais recente relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o relatório traz um ranking de 188 países, que é encabeçado pela Noruega (país de mais alto desenvolvimento humano, com IDH de 0,944) e ultimado pelo Níger, que tem o menor IDH da lista (0,348).
Desenvolvido em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq, o índice é utilizado desde o ano de 1993 pelo PNUD para comparar o nível de desenvolvimento humano entre os países anualmente. Podendo variar de 0 (nível mais baixo de desenvolvimento humano possível) até 1 (nível mais alto possível), o IDH é calculado considerando 3 dimensões: longevidade, educação e renda.
Longevidade é a expectativa de vida ao nascer e reflete as condições de saúde, sanitárias, de segurança à vida e de salubridade local, que têm consequências diretas na duração média de vida da população. A educação é avaliada segundo dois indicadores: expectativa de anos de estudo para alfabetizar uma pessoa e média de anos de estudo. Por fim, a renda é avaliada de acordo com a variação do PIB per capita (produto interno bruto dividido pelo número de indivíduos).
No relatório deste ano, o IDH do Brasil foi calculado em 0,755, referente ao ano de 2014, tendo uma pequena variação em relação a 2013, quando o índice ficou em 0,752. O desempenho praticamente estável deveu-se à queda da renda no ano passado, uma vez que o país avançou, ainda que timidamente, nos números de longevidade e educação.
Comparado aos outros países, o Brasil caiu uma posição no ranking (da 74ª para 75ª), tendo sido ultrapassado por Sri Lanka. Esta, por si só, não é uma situação preocupante, uma vez que o IDH deve ser analisado a longo prazo, numa série histórica. Variações de um ano para o outro no ranking podem ocorrer sem que indiquem deterioração das condições de desenvolvimento social.
Esta situação é, obviamente, reflexo da crise econômica e seus efeitos sobre a renda dos brasileiros em um período curto e que pode ser revertido com a volta do crescimento.
Contudo, se a crise se prolongar, as condições da economia trarão consequências deletérias sobre a vida da população e o IDH espelhará esta deterioração. Pode acontecer, por exemplo, de a queda de renda das famílias mais pobres empurrar os mais jovens para o mercado de trabalho mais cedo, forçando-os a sair da escola e afetando o indicador de educação.
O Brasil tem experimentado avanços constantes no índice de desenvolvimento desde a década de 1990. De lá para cá, passamos a ser destaque entre os países da América do Sul e fomos o país que mais avançou quando comparados aos outros sul-americanos.
Já que o IDH deve ser analisado numa perspectiva de longo prazo, os dados da tabela abaixo permitem verificar como ele tem se comportado no caso do Brasil:
Os dados nos mostram que temos tido avanços contínuos, mas ainda temos muito a melhorar. Outra observação importante é a seguinte: entre 1995 e 2005, o IDH cresceu 9,15% e, entre 2005 e 2014, o crescimento foi de 9,10%. Nesses dois períodos, tivemos partidos diferentes à frente do governo federal e, como mostram os números, quase nada mudou em relação ao IDH.
Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br