sexta-feira, 26 de abril de 2024

O impeachment e a economia – por Rommel Cavalcanti

Muito tem sido dito, inclusive aqui nesta coluna, sobre o reflexo da crise política sobre a economia. De fato, como os agentes econômicos funcionam de acordo com suas expectativas sobre o futuro, as movimentações no ambiente político afetam direta e fortemente as avaliações de risco de investimento e, em consequência, impactam nos níveis de crescimento e desenvolvimento.

Nos últimos dias, os brasileiros viveram sob bombardeio intenso de notícias, informações, boatos, comentários, discussões e todo o tipo de falatório ligado a assuntos eminentemente político-partidários. O principal tema que embalou as conversas nas redes sociais foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Os mais interessados estiveram em êxtase no ultimo domingo. Refastelaram-se em frente à televisão acompanhando uma fila interminável de deputados federais de moral duvidosa (para dizer o mínimo) expressarem-se grotescamente ao microfone, alternando erros de português, vaias, aplausos, gritos, ataques de raiva e fúria, risos, piadas e outras esquisitices certamente impróprias para um momento que, em qualquer democracia, deveria ser encarado com seriedade e respeito aos votos dos cidadãos que os elegeram.

Em meio a todas as bizarrices daquele circo de horrores, venceu a proposta que autoriza o prosseguimento do processo de impeachment e o seu envio ao Senado. Continuaremos com esta Via Crucis por mais algum tempo. E o país permanece parado…

Por falar nisto, vamos tratar sobre o mais importante, que é a economia! O que o impeachment pode mexer, para o bem ou para o mal, com aquilo que afeta o nosso dia-a- dia?

A saída de Dilma do Palácio do Planalto não trará reflexos positivos sobre a causa principal da crise econômica, que é o desequilíbrio das contas públicas. Os graves problemas fiscais do Brasil, causados pelas inescrupulosas e perdulárias gestões populistas dos governos Lula e Dilma, não se acabarão do dia para a noite.

Ao contrário, dependerão de um esforço fenomenal nos próximos anos para reorganizar a máquina pública brasileira. Esta se encontra virtualmente quebrada por pura irresponsabilidade do Planalto, bem como, embora em menor medida, do Poder Legislativo, que foi conivente com o descaso do Executivo em relação às contas públicas.

É certo, porém, que a mudança no panorama político, num primeiro momento, tende a agradar aos agentes econômicos, que perderam completamente a confiança no atual governo.

Espera-se, a princípio, reflexos positivos no câmbio e nas ações negociadas em bolsa, o que não deixa de ser positivo. O ânimo dos investidores deve melhorar, o que também é muito bom.

Mas o humor do mercado é algo pouco confiável e bastante efêmero. Além de não ser suficiente para tirar o país do buraco, a mudança política terá que promover os dolorosos ajustes na economia e no funcionamento do Estado brasileiro para reconduzir a economia ao caminho do crescimento. Sem isto, de nada adiantará a alternância de poder.

Portanto, por mais estardalhaço que o processo político provoque na mídia e nas redes sociais, o provável impeachment, por si só, poucos benefícios trará para tirar o Brasil da crise econômica e acabar com os pesadelos diários que ela traz aos brasileiros, que se chamam recessão, desemprego, inflação, etc. Continuamos, portanto, sem rumo.

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

20 de abril de 2016, 09:45

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