sexta-feira, 26 de abril de 2024

Karl Hummel vive na história do rock – por Pacheco Maia

Karl Franz Hummel era um dos cinco elementos que reunidos produziram a mais explosiva e contagiante energia do rock nos palcos do Brasil: Camisa de Vênus!!! Não me venha falar de Legião Urbana, Paralamas ou Titãs. Os baianos são incomparáveis. Confira o que estou afirmando, assistindo a esse vídeo de 1983, gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro: clique aqui.

Karl aparece logo na abertura a dedilhar visceralmente a sua guitarra, criando a ambiência sonora, junto com Aldo, bateria, Gustavo, guitarra, e Robério, baixo, para Marcelo Nova, com sua verve endiabrada, incendiar o circo. 34 anos depois, rever este show é constatar de maneira irrefutável a grandeza do Camisa de Vênus e a sua importância na história do rock no Brasil.

E ainda tem jornalista carioca com a cara de pau de escrever um livro sobre um tal BRock e colocar a banda baiana na segunda divisão. Só podia ser um amarelão ou um despeitado bairrista que não quis admitir o talento e a capacidade dos “punks baianos” de, seguindo as lições do mestre Raul Seixas, traduzir o verdadeiro espírito do rock and roll para o português.

Karl fez parte desta história. Merece ter o nosso reconhecimento e, neste momento que se ausenta, nosso sentimento de gratidão pelas catarses que nos causou com suas performances nos inesquecíveis shows do Camisa. Como me disse o grande Miguel Cordeiro, o maior artista vivo a morar na Bahia: “Cheio de energia, Karl era um cara astral e puxava a banda para frente”.

Quem não se lembra dos rodeios com o braço e a dedilhada na guitarra ao estilo Pete Townshend, do The Who. Era Karl no Camisa de Vênus. Pessoalmente só tive dois contatos com ele. Uma vez no apartamento dele na Rua Barão de Loreto, onde estive para lhe apresentar o projeto de um show na Concha, que seria o primeiro de uma banda de rock brasileira a ser transmitido pela internet. Isso foi em 1996.

Uns anos depois, novamente com o amigo em comum, Lula, que havia me levado à casa dele, o reencontrei na balaustrada da Barra, onde conversamos um pouco. Me lembro que, no apartamento, ele me mostrou uma porrada de rolos de super oito com filmagens do Camisa. Miguel me informa que o material foi digitalizado. Tomara que apareça alguém para fazer um urgente documentário sobre a banda e os anos 80 em Salvador.

Baiano, filho de alemão, ele era um cidadão do mundo. Morou em Londres e percorreu outros cantos do planeta. Quem conhece um pouco de sua história não hesita em afirmar que ela dá um grande filme. Karl deve estar sendo recebido por Raul agora lá no céu e sendo convidado para tocar na banda para um show celestial. Por aqui, a gente aguarda o Camisa de Vênus reaparecer na Velha Bahia com a turnê “Toca Raul”.

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009.  E-mail: pachecomaia05@gmail.com

08 de junho de 2017, 14:38

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