sábado, 27 de abril de 2024

Ficou mais difícil o sonho da casa própria – por Pacheco Maia

Na semana passada, noticiei com bastante desconfiança que a Caixa Econômica Federal voltara a financiar 70% do valor dos imóveis usados, depois de reduzir a 50% há poucos meses. Não deixei de chamar a atenção para a escassez do crédito que dificultaria o acesso aos empréstimos, embora fosse uma iniciativa positiva. Agora ficou ainda mais difícil realizar o sonho da casa própria.

O principal agente financeiro, responsável por mais de 80% das operações do setor, praticamente apagou a luz no fim do túnel para o mercado imobiliário, além de dar um mau exemplo para os demais concorrentes. A Caixa elevou significativamente a taxa de juros dos empréstimos para a compra de imóveis novos ou usados. Se variava entre 9% e 10%, passou a mais de 12% para quem não tem relacionamento com o banco.

O salto médio de mais de dois pontos percentuais, o que correspondeu a mais de 20% de reajuste das taxas que vinham sendo praticadas, é a clara evidência de que a fonte da Poupança está secando mesmo. O dinheiro barato dos poupadores está minguando e a Caixa está tendo que captar recursos para compor seu funding em condições mais caras: Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

O pior é que o banco público funciona para o segmento imobiliário como um regulador do mercado financeiro. Não pense você que a concorrência vai ficar sem reajustar suas taxas. Muito pelo contrário. Certamente vão oferecer índices superiores ao da Caixa, o que já vinham praticando antes. De fato, 12% por ano é uma taxa que complica bastante o financiamento dos imóveis.

Quem paga algum empréstimo imobiliário vê mensalmente na composição da parcela, que o maior valor corresponde ao pagamento dos juros. O restante serve para abater o saldo devedor, seguro e outros. O aumento da taxa de juros incide diretamente na mensalidade que não pode ultrapassar 30% da renda do mutuário.

Se você deu azar de estar recebendo o apartamento por esses dias, quando, se for o caso, precisará de financiamento, o aumento da taxa de juros poderá inviabilizar a compra. Afinal, quem teve aumento de mais de 20% na renda nos últimos dois anos de recessão? O famigerado distrato, o cancelamento do contrato de compra e venda, vem atingindo muitos cidadãos brasileiros ultimamente. O problema é que a alta de agora foi de lascar e a tendência é que cause ainda mais devoluções de imóveis.

A atenuante no caso é que, desde 2013, o mercado imobiliário vem se retraindo e poucos foram os lançamentos feitos. Em Salvador, então, a paradeira foi geral e o que existe mesmo é o estoque de unidades lançados até 2013, que ficarão ainda mais difíceis de serem comercializadas com esta subida dos juros. As incorporadoras estão sem saída. Vão ter que baixar os preços dos imóveis para vendê-los.

O incrível disso tudo, dessa encruzilhada em que se meteu o Brasil depois de apostar no 13, número que mais do que nunca traz azar, é a cara de pau da presidente Dilma Rousseff de insistir em permanecer no Palácio do Planalto. E para isso não poupa medidas irresponsáveis, como o fisiologismo vergonhoso para comprar o voto de deputados federais na votação do impeachment e o anúncio da 3ª fase do Minha Casa Minha Vida, quando não cumpriu nenhuma das metas das duas etapas anteriores nem pagou o que deve às construtoras. Não tem jeito. É impeachment nela e cadeia para Lula!

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário às sextas-feiras no Toda Bahia. E-mail: pacheco.maia@todabahia.com.br

 

01 de abril de 2016, 15:15

Compartilhe: