quarta-feira, 1 de maio de 2024

É preciso denunciar a crise hídrica na Bahia – por José Lopes

Foto: Flutuante da Embasa para captação de água no Rio Água Preta em Itanhém

Neste ano de 2015, pude acompanhar aqui pelo site Toda Bahia a luta de produtores do Vale do São Francisco, principalmente de fruticultores, junto à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) por investimentos na instalação de flutuantes para a captação de água para a irrigação (veja aqui). Lamentavelmente, a lenta e dolorosa morte do São Francisco é uma tragédia anunciada já há alguns anos.

Com ou sem denúncias de corrupção, as obras da transposição do Velho Chico são tocadas pelo governo federal, que não demonstra o mesmo empenho na sua revitalização. Esperava-se até que o Lago de Sobradinho atingisse o volume-morto no mês de dezembro, fato que só não ocorreu devido às chuvas recentes nas cabeceiras do rio em Minas Gerais. Mas o cenário não é muito animador: o volume útil do lago ficou estabilizado em 1% do seu potencial.

Desde o início de setembro, o Toda Bahia tem denunciado o sofrimento da região Oeste e da Chapada Diamantina com o surgimento de incêndios naturais e provocados. Essa situação, infelizmente, já virou rotina na Bahia: acontece um ano sim e no outro também, com a negligência do poder público.

O descaso ou o cinismo das autoridades é tão flagrante a ponto de algumas dizerem que existem “brigadistas profissionais”, que ateiam fogo à vegetação que dizem estar protegendo, para poderem receber recursos dos governos federal e estadual para situações de emergência.

Neste exato momento, 157 municípios baianos têm situação de emergência reconhecida pelo governo federal, praticamente todos eles concentrados nas regiões Oeste, do Velho Chico e da Chapada Diamantina.

Mas jamais se poderia imaginar que a exuberante Região Cacaueira passasse por uma situação de estiagem semelhante à do semiárido baiano. Foi com tristeza que o Toda Bahia divulgou imagens da seca na BR-101 em Itabuna e da contratação de aviões por produtores de cacau para semearem chuvas artificiais na região.

Entretanto, o fato mais preocupante foi denunciado neste sábado (19): a guerra por água para matar a sede da população entre as cidades de Potiraguá e Itanhém, sem falar da situação de Itaquara, no Vale do Jiquiriçá.

água itanhém

A prefeita de Itaquara, Iracema Araújo, disse que “o problema de desabastecimento de água pela Embasa já chegou ao extremo”. Já passou da falta de respeito da Embasa pelo seu consumidor. A pergunta que não quer calar é o que o governo da Bahia espera acontecer para agir?

É evidente que não existe uma política séria, estruturante, para a convivência com a seca na Bahia, nem de planejamento do Estado para amenizar o sofrimento da população nos períodos de maior estiagem em anos de forte atuação do El Niño.

Até no município de Mucuri, na região do Extremo Sul, a crise hídrica chegou. Nesta segunda-feira (21), irá acontecer uma audiência pública para tratar da situação do rio que dá nome à cidade e que está morrendo com o assoreamento, poluição e uso indiscriminado das suas águas.

Já não se lamenta mais a falta de água para a irrigação da pujante fruticultura do Extremo Sul, nem da sua indústria de celulose. O mais triste é saber que uma região marcada pela presença da mata atlântica e berço do descobrimento do Brasil, corre o risco de ver seus rios secarem, sua lavoura se perder e sua população morrer de sede. Triste Bahia.

José Lopes é jornalista, diretor executivo do Toda Bahia e escreve quinzenalmente sobre agronegócio. E-mail: j.lopes@todabahia.com.br

20 de dezembro de 2015, 07:40

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