sexta-feira, 26 de abril de 2024

Circo mambembe – por Gustavo Falcón

Às vésperas das convenções partidárias que escolherão os candidatos a prefeito em todas as cidades brasileiras, a serem realizadas no mês de julho, o País vive uma grave crise econômica e política, caracterizada pela perda de empregos e drástica redução de investimentos, embora sem os malefícios aterrorizantes da inflação galopante e por uma falta absoluta de credibilidade do Congresso Nacional e da classe política em geral.

Legislativo e Executivo se deixaram enlamear pela soberba da corrupção que, ademais, levou setores emergentes da classe média à ilusão de que o dinheiro é tudo nessa vida. E que agora pagam, alguns na cadeia, pela malandragem de querer pular de classe numa curta labuta de uma década ou duas. De pé, apenas, parte do Judiciário que aprofunda investigação sobre o mar de lama das estatais e leva de roldão grandes empresários nacionais, hoje presidiários em Curitiba.

Parte, porque o grosso, ou não funciona, ou não é confiável, também. Eu, por exemplo, tenho duas ações vencidas na Vara Cível de Cachoeira que esperam pela assinatura do juiz há dois anos. Como eu, milhares de pessoas simples desse país vivem à espera da bondade da Justiça em resolver suas vidas em várias dimensões do direito, totalmente à mercê da burocracia que só funciona à base do toma lá ou do pedido especial de favor pessoal.

Após a escolha dos candidatos a Prefeito eles adentram em suas campanhas enrolando a população no famigerado horário político obrigatório, excrecência que deu origem a parte dessa marretagem que embolou ladrões contumazes com profissionais da comunicação. E o eleitor, além de ser obrigado a ver e ouvir um carretel de mentiras, terá que, por lei, ir à secção eleitoral sob pena de pagar multa. A Lei, para começar, podia dispensar o brasileiro desse rito, dando a liberdade de escolha: comparecer ou não a urna.

Sem discussão séria, sem debate, sem apresentação de propostas plausíveis e necessárias, a eleição no segundo semestre só servirá para aumentar o “custo Brasil”, tirando um panaca e colocando outro no lugar. E o eleitor se sentirá num circo mambembe que, aliás, é a realidade do Brasil hoje.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br

27 de junho de 2016, 10:00

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