sexta-feira, 26 de abril de 2024

Antônio: casamenteiro, taumaturgo e amante do Evangelho – por Davi Lemos

Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa é chamado de santo casamenteiro e essa alcunha reúne na fila de pedintes ao santos milhares de homens e mulheres solteiros que desejam desencalhar, encontrar um grande amor ou, em outros casos, melhorar um casamento ou relacionamento já existente.

Essa tradição de chamar o santo lusitano de casamenteiro tem relação com fato ocorrido na vida missionária do franciscano. Em uma cidade italiana em que estava, o santo encontrou uma mulher que vivia aflita pelo fato de seu noivo não ter recursos para pagar o dote que era devido para desposá-la. Ela então recorre ao Frei Antônio e, segundo conta-se, milagrosamente, o rapaz que possuía recurso nenhum consegue o dinheiro necessário para pagar o dote à família da noiva e, assim, casarem-se.

Há uma outra história, esta já após a morte do santo e que tem ares muito mais de brincadeira que de verdade, que relata o caso de uma outra fiel que, descontente com a inoperância do taumaturgo português em atendê-la em seu desejo de casar-se, joga a imagem do santo pela janela, atingindo a cabeça de um homem. Após o incidente, os dois terminam por apaixonar-se e casam-se.

Como disse, todo esse manancial de histórias verídicas e inverídicas tornam Antônio um dos santos mais populares não somente entre católicos, mas entre adeptos de outras religiões. A vida do franciscano – ele foi contemporâneo do fundador da Ordem dos Frades Menores, São Francisco de Assis – teve esse traço da preocupação com o atendimento à necessidade dos mais pobres, tanto que notabilizou-se pelo combate aos usurários, agiotas que exploravam o povo pobre com a prática de empréstimos a juros astronômicos.

O preocupar-se em prover aos pobres o pão material ocasionou outro costume das celebrações atuais: receber o pão de Santo Antônio. Esse costume provém de um relato de milagre ocorrido quando o santo usou todo o alimento da dispensa do convento para alimentar pessoas famintas. Um confrade então disse ao santo que não mais havia pão para alimentar os religiosos; o frei Antônio então pediu que o companheiro voltasse a verificar a dispensa e, lá, encontrou fartura de pães.

Mas não são só milagres e socorro aos mais pobres e desesperados o resumo da vida de Antônio. Ele, que iniciou a vida religiosa na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, era profundo conhecedor das Escrituras, o que lhe rendeu os títulos de “Arca do Testamento” ou “Doutor Evangélico”, pois era capaz de recitar toda a Palavra de Deus de memória. E, além disso, consideram os estudiosos que a teologia da Antônio refletia a sua inocência. Tamanha inocência tinha o “Martelo dos Hereges” que Cristo, o Menino Jesus, encarnou-se e acomodou-se nos braços do santo. “O Verbo que habitava em seu coração, quis repousar nos braços dele”, comentam.

Inocência e humildade marcaram a vida do casamenteiro de quem, dentre as tantas frases célebres, destaco esta: “Jerusalém tinha uma porta chamada ‘Buraco da Agulha’, pela qual não podia entrar um camelo, porque era baixa. Esta porta é Cristo humilde, pela qual não pode entrar o soberbo ou o corcunda avarento. Aquele que pretende entrar por ela tem de se humilhar”.

Rogai por nós, ó Antônio!

Davi Lemos é jornalista. Trabalhou no jornal A Tarde, na Tribuna da Bahia, no Correio da Bahia e cobriu as eleições de 2010 pelo Portal Terra. Foi assessor da Comissão de Cultura da CNBB. Ele escreve sobre Religião no Toda Bahia. E-mail: davi_lemos@hotmail.com

14 de junho de 2017, 14:31

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