sexta-feira, 26 de abril de 2024

A social-democracia em queda livre – por Gustavo Falcón

Na semana que passou, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu entrevista à imprensa fazendo leitura crítica da conjuntura brasileira com a mesma lucidez da sua época de crítico do regime militar. Continua pensando e bem! E parece feliz, o que é difícil para um político no ocaso da vida. Basta olhar para Lula e imaginar o que tem sido esse demorado inferno astral em que mergulhou aos 70 anos de vida.

Integrando, como aliás o PT, a chamada social-democracia brasileira, FHC assistiu à “direitização” de sua agremiação, o PSDB, e a desmoralização da outra vertente social-democrata – o PT -, como resultado da predominância sindical-corporativista sobre as chamadas correntes egressas do esquerdismo dos anos 60.

O filósofo baiano Antonio Paim, autor de “O Socialismo Brasileiro”, radicado no Rio desde os anos 40, examinou documentos e deliberações petistas, bem como cotejou entrevistas de seus principais dirigentes e anteviu dois caminhos para oPT: o radicalismo de origem totalitária, proveniente das organizações marxistas que se agruparam em seu seio, ou uma aceitação clara das regras democráticas, o que faria o partido se transformar, pela desenvoltura dos votos, numa das mais promissoras esperanças de mudança social no Brasil. Não deu uma coisa nem outra.

A mistura do totalitarismo com a corrupção acabou frustrando o projeto social-democrata que, submetido aos ditames eleitorais, foi trocado por um espécie de deformação que tomou conta das duas principais vertentes. O PSDB caminhou em direção ao centro e logo depois à direita. O PT se esvaiu em podridão.

Diante da fraqueza dos partidos de extração burguesa, a esquerda, que entre nós evoluiu da luta armada para a luta parlamentar, fez com FHC uma estreia administrativamente eficaz e concluiu com o PT um ciclo de barbeiragem, cujo resultado visível é a crise sem precedentes na economia e a divisão ideológica do País em duas bandas, que em nada contribuem para o sonho sempre acalentado de um país desenvolvido e forte.

O resultado das eleições vai dar uma ideia clara de como estão pensando os brasileiros hoje. A julgar pelo que se anuncia nas capitais, a social-democracia petista e também a do PSDB terá que reavaliar sua história para não continuar caindo em queda livre. A fraqueza dessas vertentes pode indicar o fim de um ciclo vitorioso da esquerda no País.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br

19 de setembro de 2016, 09:00

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