sábado, 27 de abril de 2024

A grande aposta – por Pacheco Maia

Geddel é página virada. Desafio agora quem queira fazer uma aposta de que o La Vue acabará sendo erguido com seus 30 pavimentos. Já vi este filme antes. Não faz tanto tempo e o cenário não era muito distante. Basta subir a Ladeira da Barra. No topo está lá já de pé o Mansão Wildberger. Demorou mas o espigão subiu. E aí?

Não vou ficar aqui engrossando o coro de pseudopreservacionistas-ambientalistas. Tô fora! Essas causas e discussões nunca são pautadas pela razão e pelo verdadeiro interesse público. Por trás dos greenpeaces da vida existem sempre negócios obscuros muito bem embalados por retóricas progressistas e salvacionistas, politicamente corretas.

Embarcava nesta canoa furada até os 30 anos. Depois da idade de Cristo passei a desconfiar de todos com menos de 30. Mais por causa da ingenuidade e inocência do que propriamente má-fé. Com o farol do ceticismo aceso, peguei a contramão do movimento hippie, que pensava em sentido oposto.

Outro dia, ao passar pela Reitoria da Ufba ocupada, fui abordado por uma jovem que tentou me convencer a ser contra a PEC 241. Em nenhum momento me expôs o que era a tal Proposta de Emenda Constitucional que pretende limitar os gastos públicos. Só falava que não prestava e destacava: “Vim da roça e sou a primeira pessoa de minha família a entrar na faculdade”.

Legal, lhe disse. E quico? Ao concluir a prédica quase que religiosa, cheia de dogmas, falei que ela não estava me informando sobre a PEC, mas cobrando de mim uma posição contrária. “Como poderia ser contra algo que não conhecia?”, provoquei-a. Aproveitei e lhe perguntei se ela tinha lido a proposta.

Tensão no ar. Desanuviei, recomendando-lhe que uma menina tão inteligente como ela deveria aproveitar a oportunidade de estar na universidade para se dedicar a transformar o Brasil de verdade e não a ficar a serviço de um pensamento retrógrado que depois de 13 anos deixava o País naquela situação lastimável, tornando inevitável medida tão drástica.

Então, o que assistimos diariamente em Salvador, na Bahia e no Brasil é a esses sucessivos exemplos de manipulação. Hoje favorecidos pela internet e as redes sociais. Nada contra elas. Muito pelo contrário. Para me explicar, cito uma canção que Pepeu e Baby defenderam num festival de música da Rede Globo no início dos anos 1980: “O mal é o que sai da boca do homem”:

“Você pode fumar baseado/Baseado em que você pode fazer quase tudo/Contanto que você possua/Mas não seja possuído/Porque o mal nunca entrou pela boca do homem/Porque o mal é o que sai pela boca do homem…”

Internet e redes sociais são instrumentos bastante úteis, que facilitam as nossas vidas. Mas quem decide o uso deles é cada um. Como diz a canção, o “mal é o que sai pela boca do homem”. Da mesma forma que esclarecem, podem obscurecer. Isso se aplica a toda a mídia.

Mas, voltando à questão do La Vue, o que está faltando é luz sobre o assunto. Sem me prender à legislação sobre sítios históricos, até porque não a consultei, o que não faltam na Ladeira da Barra atualmente são espigões.

Até pouco tempo um empreendimento na região foi paralisado, mas não por problemas com o Iphan. O impedimento seria de ordem financeira, relacionado à solvência dos incorporadores.

Não sou contra a verticalização da região, o que entendo imprescindível por ser local de vista desejada por muitos e sem espaço para atendê-los na mesma proporção. Ao mesmo tempo defendo que a quinta da família Mariani seja preservada como uma necessária reserva verde.

Será que é tombado o terreno que fora um dia temporariamente desapropriado como retaliação a um negócio do patriarca banqueiro que não deixou satisfeito um governador da Bahia? Ou no futuro poderão os herdeiros transformá-lo num paliteiro de arranha-céus?

São questões que precisam ser respondidas para que possamos realmente ter uma visão mais clara da questão La Vue. Porque senão fica difícil crucificar só Geddel por atitudes pouco republicanas. De qualquer maneira, como disse anteriormente, mantenho o desafio: quer apostar quanto que o La Vue será erguido com seus 30 pavimentos?

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário quinzenalmente no Toda Bahia. E-mail: pacheco.maia@todabahia.com.br

26 de novembro de 2016, 12:30

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