sexta-feira, 19 de abril de 2024

Rapidinhas: Palanque sortido no meio da rodovia

Foto: Alan Santos/PR

Davi Lemos

O palanque de uma possível candidatura a governador de João Roma (Republicanos) será tão pluripartidário quanto a comitiva de políticos que acompanhou o ministro da Cidadania e o presidente Jair Bolsonaro na inauguração da duplicação de 22 quilômetros da BR-101 na região de Feira de Santana? No palanque havia de tudo: parlamentares da base de Rui Costa, da base de ACM Neto, da base de ambos (caso do PDT) e bolsonaristas que não eram os de ocasião. Alguns parlamentares disseram que era uma questão de prestigiar uma obra que beneficia os baianos, outros foram movidos pelo pragmatismo de quem quer ver recursos liberados para suas bases em importantíssimo ano pré-eleitoral. Mas o recado que fica é: Roma, Neto e o candidato petista à sucessão de Rui (provavelmente o senador Jaques Wagner) podem colocar as barbas de molho, pois nenhum tem garantia de farinha para o próprio pirão.

Puxador

Bolsonaro precisa construir um palanque que dê a ele os votos que não conseguiu nas eleições de 2018 na Bahia. Além do nome de Roma, já surgiu o nome do vereador de Salvador Alexandre Aleluia, que permanece em litígio com os caciques do DEM no estado, e de Raissa Soares, secretária de Saúde de Porto Seguro. Nada está definido; e o mesmo se vê na base de Rui Costa: não há nenhum martelo batido. Embora o vice-governador João Leão (PP) tenha descartado que o deputado Cacá Leão seja o nome ao Senado na chapa de ACM Neto, isso não indica que o PP esteja alinhado com os planos do PT na Bahia, ainda que tenha Lula elegível e livre. Cacá Leão disse que o pai dele será o candidato da sigla ao governo estadual.

Jornalistas

A passagem de Bolsonaro pela Bahia também foi marcada pela agressão à jornalista Driele Veiga, da TV Aratu. A profissional que acompanhava a entrega dos trechos duplicados da BR-101 perguntou ao presidente o que ele achava das críticas à postagem que ele fez nas redes fazendo menção à expressão ‘CPF Cancelado’. O presidente chamou a jornalista de “idiota” e Toda Bahia verificou que somente Alexandre Aleluia (DEM) e o deputado Capitão Alden (PSL) aprovaram a reação do presidente contra a repórter. O apoio ao presidente pode gerar dificuldades aos bolsonaristas com a imprensa; não se sabe se João Roma, possível nome do bolsonarismo ao governo estadual, endossa a atitude do chefe. Roma tem histórico de relação cordial com a imprensa baiana.

Rouba mas faz

Essa frase é quase uma máxima da velhíssima política brasileira e, na semana passada, foi ressuscitada pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski; claro que contada de outra forma mais cândida e, aparentemente, moral. O magistrado considerou que os prejuízos de quase R$ 150 bilhões gerados pela Operação Lava Jato eram culpa dos policiais, procuradores e juízes que investigaram o esquema corrupto e não dos personagens que engendraram a engrenagem de roubo também bilionário aos cofres públicos – a conclusão do ministro, ocorrida durante o julgamento da suspeição de Sergio Moro no julgamento do caso suposto triplex de Lula, deixou entender que era melhor deixar o sistema corrupto fluir em nome do crescimento econômico. O ministro só não considerou que, sua nova versão para o “rouba mas faz”, afasta investimentos nacionais e internacionais.

Não quer mais

De herói nacional ao posto de super ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro, segundo a Revista Piauí, já descartou completamente a possibilidade de continuar ou iniciar uma carreira na política. O foco do ex-magistrado é agora trabalhar com a promoção do combate à corrupção na iniciativa privada – implantar tais princípios elevaria, inclusive, o valor de mercado das corporações. Realmente parece mais difícil combater a corrupção no setor público (onde dinheiro público tornou-se sinônimo de dinheiro de ninguém) que na iniciativa privada, cuja lógica é ganhar dinheiro. O tarefa de Moro é convencer empresários que é possível ficar mais rico combatendo a corrupção que participando dos tradicionais “esquemões”. A tarefa parece igualmente espinhosa.

26 de abril de 2021, 22:21

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