sexta-feira, 26 de abril de 2024

Rapidinhas: Dois bispos e o apoio ao presidente

Foto: Divulgação/CNBB

Davi Lemos

No final de julho, um grupo de 152 bispos ativos e eméritos da Igreja Católica no Brasil divulgou um manifesto contra o presidente da República, Jair Bolsonaro. Entre outros pontos, apontaram a “omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres”, além da incapacidade do presidente para enfrentar crises. Esses bispos são da ala progressista ou esquerdista dos bispos brasileiros, que são tradicionalmente mais barulhentos, afeitos à publicação de manifestos. Um dos que assinou foi Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), expoente da Teologia da Libertação que faleceu em 8 de agosto.

Disputa

A carta divulgada pelos bispos tornou ainda mais intensa a disputa ou racha na Igreja Brasileira, cuja maioria dos bispos é conservadora, mas silenciosa. Um retrato disso foi mostrado por Toda Bahia durante a última eleição da CNBB, em maio de 2019, quando o bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Joel Amado, foi eleito secretário-geral da instituição, ao derrotar Dom Joaquim Mol, bispo-auxiliar de Belo Horizonte (MG). A outra parte dos 479 bispos cobra uma posição do presidente da CNBB e arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, que tenta colocar panos quentes na situação.

O santo

A morte recente do bispo de Palmares (PE), Dom Henrique Soares da Costa, também deu novo ânimo a essa ala mais conservadora e silenciosa da Igreja Católica. Falecido em 18 de julho deste ano, Soares era conhecido em todo o Brasil por sua posição em favor da doutrina católica e por sua atuação nas redes sociais. Já no dia da morte, muitos fiéis, de norte a sul, pediam que a CNBB pedisse ao papa Francisco a dispensa do tempo mínimo de cinco anos para abertura de um processo de beatificação. A veneração ao bispo conservador encorajou outros bispos com a mesma posição.

Neutralidade

A maioria silenciosa dos bispos brasileiros não quer necessariamente um apoio ao presidente Jair Bolsonaro, a quem têm críticas, mas não querem também um apoio a pautas que estão ligadas à Teologia da Libertação e a movimentos e partidos de esquerda no Brasil. Os bispos brasileiros querem falar mais em santidade e salvação da alma, como fazia Dom Henrique, e menos em revolução ou luta de classes, como fazia Dom Pedro. “Quando a Igreja falou menos de Jesus e mais de Marx e Che Guevara, os fiéis, que queriam Cristo, foram buscá-lo em outras denominações”, disse um bispo católico.

12 de agosto de 2020, 19:57

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