sexta-feira, 29 de março de 2024

Jovens abusados por padres revelam seus dramas pela primeira vez

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Redação Toda Bahia

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A Revista Veja deste fim de semana traz, pela primeira vez, relatos de jovens que foram abusados por padres. “Eles são testemunhas do escândalo que chegou ao Vaticano e provocou a renúncia do bispo que protegia os pedófilos”, afirma a publicação.

Um dos depoimentos é do ex-coroinha, Ednan Aparecido Vieira, na época com 17 anos, que diz que foi convidado pelo padre Pedro Leandro Ricardo para dormir na casa paroquial na zona rural de Araras, cidade a 180 quilômetros de São Paulo, alegando que no dia seguinte precisaria de ajuda para celebrar uma missa. Na ocasião, ele conta que foi questionado pelo padre sobre a vítima íntima e que o padre, então com 32 anos, revelou suas verdadeiras intenções ao aparecer na sala vestido apenas com uma cueca samba-canção.

Leandro contava com a proteção de dom Vilson Dias de Oliveira, bispo emérito da Diocese de Limeira, jurisdição que representa dezesseis cidades do interior de São Paulo. Sem a intervenção das autoridades eclesiásticas de fora do país, que obedecem a uma diretriz do papa Francisco, tais crimes poderiam permanecer impunes. Agora, há uma esperança de que os malfeitos tenham consequências, informa a Veja. Dois meses após o Vaticano receber o calhamaço com as denúncias, Leandro acabou afastado das funções de padre e de reitor da Basílica de Santo Antônio de Pádua e está impedido de celebrar missas até a conclusão da investigação.

No escândalo de Araras, o bispo Vilson Dias de Oliveira não deu andamento às denúncias que estavam sob sua jurisdição. Além do envolvimento de Leandro, há vítimas dos padres Carlos Alberto da Rocha e Felipe Negro. O dossiê enviado ao Vaticano não trata apenas de pedofilia. Há indícios fortes ali também de uma espécie de “mensalinho do abuso”. As vítimas afirmam que o bispo exigia propinas dos párocos de conduta condenável para deixá-los atuar sem ser investigados. A prática teria rendido dividendos visíveis. Vilson possui dez imóveis registrados em seu nome, todos em São Paulo. Metade deles na cidade de Guaíra e os outros em Itanhaém, no litoral sul paulista. Em uma avaliação conservadora, a soma do patrimônio supera a marca de 1,5 milhão de reais. É o verdadeiro milagre da multiplicação imobiliária. Procurado por VEJA, o bispo disse, por meio de seu advogado, que não cometeu condutas ilícitas. Acusado de abuso contra Paula Vallentin e de ter assediado Mariele da Silva Dibbern, Felipe Negro negou os crimes. “Essas denúncias não conferem”, limitou-se a dizer. O advogado Paulo Henrique de Moraes Sarmento falou em nome do padre Leandro: “Das seis pessoas, apenas duas foram ouvidas na delegacia competente para apurar o caso, e as outras quatro foram levadas até outra delegacia, onde foram ouvidas à revelia deste defensor, violando-se o direito de ampla defesa de meu cliente”. O defensor também refuta a história do “mensalinho do abuso”. “O padre Leandro nunca fez nenhum pagamento a dom Vilson”, afirma.

A vendedora Paula Valentin, de 25 anos, relatou: “O padre Pedro Leandro Ricardo me olhava de forma diferente. Eu tinha 16 anos, quando ainda não me entendia como uma mulher transexual. Como meu pai havia morrido, achava que o pároco tinha carinho por mim. Ele começou a ficar ao meu lado enquanto eu vestia a túnica de coroinha. Depois, passou a me ajudar com as vestes para tocar o meu corpo, com a desculpa de desamassar o tecido”. Além dela, outras pessoas deram depoimentos sobre abusos sofridos à revista.

13 de julho de 2019, 13:29

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