quarta-feira, 24 de abril de 2024

“Incêndio em Notre Dame foi uma catástrofe para arte”, diz Dom Gregório Paixão

Davi Lemos

O bispo de Petrópoles (RJ) e referencial na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a área da Cultura, Dom Gregório Paixão, declarou que o incêndio que consumiu a Catedral de Notre Dame, em Paris, “é uma catástrofe para a arte”. O prelado também destacou que o imponente templo religioso é sinal da fé cristã não somente dos franceses, mas da humanidade. “É um momento de expressar nossa solidariedade com os cristãos, com os católicos da França”, disse o bispo.

Dom Gregório, que é monge do Mosteiro de São Bento em Salvador e foi também bispo-auxiliar da arquidiocese soteropolitana, ressalta que a catedral não representa somente o gênio artístico de seus construtores, mas a resistência de um povo que lutou para manter viva a sua fé. “A intenção da Revolução Francesa era destruir a catedral. Entronizaram a deusa da Razão no altar principal, mas a fé do povo resistiu. Acredito que o mesmo povo reerguerá sua catedral”, disse Dom Gregório Paixão.

O bispo, que é doutor em antropologia e professor de antropologia cultural da Universidade Aberta de Amsterdã (Holanda), ressalta que a catedral, além de símbolo da França, considerada filha primogênita da Igreja, era também um espaço aberto à visitação de todos. “Estive na catedral, é um local que acolhe a todos, cristãos ou não”, disse Dom Gregório. O beneditino salientou que o azul dos vitrais dificilmente será reproduzido, uma vez que foi produzido exclusivamente para a catedral de 800 anos.

“Os arcos que sustentam aquela super estrututa; transformaram em beleza aqueles arcos. É um igreja que sustentou milhares de pessoas por séculos. O povo francês vai restaurar aquele catedral”, comentou Dom Gregório. O prelado ressaltou que o momento não é para apontar as causas do incêndio: “ainda não se sabe a causa. É um exagero apontar culpados quando nada se sabe; nem se pode dizer, nesse momento, que é um sinal da decadência do catolicismo na França”.

O bispo de Petrópolis, entretanto, ressalta que o incêndio da catedral deve servir para a reflexão de católicos e não católicos do mundo inteiro. “Importante refletirmos sobre a importância da Igreja e do cristianismo como construtores da sociedade em que prevaleceu a liberdade”, salientou.

 

Foto : Reprodução/Twitter @almacy

Ataques

Em março, 12 templos católicos foram alvos de ataque na França e, nas redes sociais, muitos comentários já atribuíam o incêndio da Catedral de Notre Dame como mais um desses atos de violência. A catedral passava por restauração e as imagens dos apóstolos já haviam sido retiradas para o prosseguimento das obras de restauro.

A Igreja de Saint-Sulpice foi alvo de um incêndio, em março, após a celebração de uma missa dominical ao meio dia. No momento do ataque, o templo estava praticamente vazio. Na cidade de Nimes, a Igreja de Notre-Dame des Enfants também foi atacada: saquearam o altar principal, destruíram o sacrário e roubaram as hóstias consagradas que, em seguida, foram jogadas no lixo. Houve também ataques em Dijon, Lavaus e em outra igrejas na periferia de Paris.

A França tem uma história marcante inclusive para a devoção mariana na Igreja Católica. Das cinco aparições reconhecidas de Nossa Senhora (Notre Dame), três ocorreram na França: La Salette, Lourdes e Nossa Senhora das Graças ou Medalha Milagrosa. As outras duas aparições reconhecidas são Guadalupe (México) e Fátima (Portugal). No dia de hoje, frases atribuídas a Nossa Senhora em La Salette têm sido compartilhadas: uma delas fazendo referência a que Paris seria queimada.

O bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, diz, entretanto, que o momento é de prestar solidariedade. O presidente francês Emmanuel Macron disse, nesta segunda-feira (15), que Notre Dame será restaurada e que uma campanha internacional para arrecadação de recursos será promovida com esse fim.

15 de abril de 2019, 22:26

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