quinta-feira, 25 de abril de 2024

Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas protesta contra a morte de Miguel

Foto: Reprodução

Da Redação

A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) emitiu uma nota de repúdio pela morte de Miguel Otávio Santana da Silva, um menino negro de 5 anos, que estava no local de trabalho de sua mãe, trabalhadora doméstica. Ele caiu do 9° andar por negligência da empregadora.

De acordo com Luiza Batista, presidente da Fenatrad, é inadmissível a atitude da empregadora Sari Corte Leal. “A situação já começou errada, como pode uma patroa branca de classe média, que, em meio à pandemia do coronavírus, convoca na sua casa uma trabalhadora doméstica e uma manicure?”, questiona.

“Enquanto comemoramos os 5 anos da lei complementar 150, de 2015, que garante direitos trabalhistas à categoria das domésticas, os atos da elite escravocrata nos confirmam, mais uma vez, que ainda estamos longe da “segunda abolição””, disse Luiza Batista.

“Forçada não só a trabalhar para poder manter sua família, mas também a levar seu filho com ela, por causa do lockdown e das escolas estarem fechadas, a mãe do Miguel estava na casa da empregadora quando lhe foi exigido que saísse para passear com os cachorros. E depois a empregadora deixou o menino subir sozinho no elevador para poder terminar sua manicure. Que tipo de pessoa deixa uma criança aflita, chamando pela sua mãe, subir qualquer andar de um prédio? O mesmo de tipo de pessoa que acha mais importante ter sua unha pintada e seus cachorros passeados do que preservar a vida das mulheres contratadas para realizar tal serviço”, diz a nota.

A Fenatrad afirma que continuará a exigir que os governadores e prefeitos revisem seus decretos de lockdown para retirarem a lei da escravidão que continua obrigando as trabalhadoras domésticas a servirem à Casa Grande durante a pandemia, independente dos patrões terem toda aptidão para lavarem um banheiro ou uma pia de prato durante algumas poucas semanas de suas vidas.

“Continuaremos a exigir que o Ministério Público do Trabalho exija dessas autoridades públicas a revisão dos decretos de lockdown, o devido cumprimento da Lei 13.979/2020 e da própria Norma Técnica do MPT que estabelece diretrizes para as trabalhadoras domésticas terem garantidos seu direito de quarentena, de viverem e de cuidarem de seus filhos e familiares, de modo a não terem que lidar com a dor de mais uma vida negra ceifada, como a da criança Miguel”, disse Luiza Batista.

Entenda o caso

O menino Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morreu após cair do 9º andar de um prédio de luxo no Centro do Recife na última terça-feira (2). No momento do acidente, ele tinha sido deixado pela mãe — que é doméstica e estava na parte de baixo do prédio passeado com o cachorro dos patrões — aos cuidados da patroa dela, a primeira-dama de Tamandaré, Sari Corte Real. A patroa foi presa em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e solta após pagar fiança de R$ 20 mil.

O momento da queda

Durante a manhã, Miguel brincou com a filha dos patrões dentro do apartamento, que fica no 5º andar do prédio de luxo.

A mãe dele precisou descer com o cachorro de estimação dos patrões e avisou à patroa que as crianças não iriam junto porque estavam dando trabalho.

Segundo a polícia, enquanto Mirtes estava na parte de baixo do prédio, a criança quis encontrá-la.

A patroa, que estava no apartamento com uma manicure que fazia as unhas dela, deixou o menino ficar sozinho no elevador para procurar a mãe, conforme mostraram as imagens de câmeras de segurança.

O menino aparece entrando correndo sozinho no elevador de serviço. Em seguida, Sari aparece e, aparentemente, tem uma rápida conversa com o menino. Pela imagem, ela também parece apertar um botão de um andar alto do prédio, antes de deixar o menino sozinho no elevador, cuja porta se fecha. A luz do botão que Sari parece apertar não acende, mas é possível ver que acende a luz de outro botão apertado pelo garoto quando ele já está sozinho lá dentro com a porta fechada.

05 de junho de 2020, 18:05

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