quarta-feira, 24 de abril de 2024

A desconhecida doutrina do muito amado Santo Antônio

Foto: Santo Antônio de Pádua - Sanzio de Varallo

Davi Lemos*

Antônio de Pádua é imensamente amado, mas quem, dentre seus milhares de fiéis, realmente o conhece? A imagem de casamenteiro e taumaturgo é a que mais comumente permeia o imaginário de católicos que buscam o santo como intercessor. Seria como encontrar um grande pensador e dele pedir somente um copo d´água ou um prato de comida. O santo português, conhecido como Arca do Testamento, é autor de uma teologia profundíssima que rendeu-lhe, inclusive, o título de doutor da Igreja.

No diálogo com a samaritana descrito no Evangelho de São João, Jesus fala à mulher sobre a “água viva” que ele poderia dar, ao contrário daquela retirada do Poço de Jacó que, mesmo após consumida, não cessaria a sede de quem a bebesse. Sobre a “água viva”, Cristo garantiu à samaritana: quem a bebesse não mais teria sede. É justamente essa água salientada por Jesus que se encontra na doutrina pouco conhecida de Santo Antônio.

Com espírito profundamente sagrado, o santo português ensinou os dois movimentos fundamentais para a santificação. A primeira seria a transcendência das coisas visíveis para as invisíveis (“sublevatio mentis”). Nos dias atuais, esse primeiro passo sugerido pelo franciscano torna-se até dramático dada a balbúrdia e a escravidão aos sentidos que é pregada contemporaneamente.

O segundo passo sugerido na doutrina de Santo Antônio seria possuir ou desenvolver um olhar de contemplação amorosa que unisse a alma às realidades sobrenaturais superiores. Esse olhar de contemplação torna a pessoa semelhante ao que é amado (alienatio mentis). Para Antônio, é essa mística da sacralidade que dá sentido à vida espiritual.

Foi o papa Pio XII quem, por meio da Carta Apostólica Exulta Lusitania Felix (Exultai, ó feliz Portugal), concedeu o título de Doutor da Igreja ao grande Santo Antônio de Lisboa. Proclamando-o “Doutor Evangélico”, o pontífice apontou que a doutrina do santo franciscano deveria ser um farol para iluminar o itinerário espiritual das almas e a sacralização da ordem temporal.

Sim, Antônio de Pádua ou de Lisboa talvez seja o santo com o mais profícuo relato de milagres relacionados à sua vida e também à sua morte. O frade, que realizou os trabalhos mais ordinários e os milagres mais espetaculares, merece ser amado não somente pela extraordinária vida, mas também pela sublime doutrina expressa em sermões e pregações.

*Davi Lemos é jornalista

11 de junho de 2019, 14:15

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