quinta-feira, 25 de abril de 2024

Um novo governo com velhos hábitos – por Rommel Cavalcanti

E lá vamos nós de novo… Nem bem esquentou a cadeira presidencial, Temer já começa a promover trapalhadas com a economia em razão de interesses, expectativas e acordos políticos. Numa tentativa insana de agradar a todos os seus pares, em busca de uma coalizão de forças que o legitime no poder pelos próximos anos, o inexpressivo, sem carisma e impopular “líder” mostra estar disposto a comprometer o necessário ajuste fiscal e afundar ainda mais a saúde do Estado e da economia para manter-se no Palácio do Planalto.

É bem verdade, Temer surpreendeu ao montar a sua equipe econômica, dando a entender, pelos nomes de peso escolhidos para compô-la, que trataria de forma séria e austera as correções no funcionamento da máquina pública que conduzissem ao reequilíbrio das suas contas.

Aliás, comparado com os demais ministérios e suas nomeações indevidas e estapafúrdias, o da Fazenda foi a rara exceção, tendo sido premiado com a indicação de Henrique Meirelles.

Não obstante isto, o atual presidente interino tira da cartola um crime de lesa pátria. Agindo de forma completamente irresponsável com o trato dos assuntos econômicos, Temer submete à votação na Câmara um pacote de medidas de elevação das despesas públicas, através de aumentos de salários de servidores públicos e criação de nada menos que 14.500 (QUATORZE MIL E QUINHENTOS!) cargos em diversas áreas da administração federal.

Como se pode conceber uma estultice dessas, no momento em que o país atravessa uma das maiores crises da sua história, fruto do descaso no trato das contas públicas? Pior ainda, o processo de impeachment de Dilma, apoiado e capitaneado pelo presidente em exercício, foi justificado exatamente pela péssima gestão da coisa pública, que a levou a cometer, indubitavelmente, crime de responsabilidade por infrações às leis orçamentárias.

Difícil, também, entender a posição da equipe econômica neste episódio. Quero crer que os técnicos do ministério da Fazenda discordaram da implementação dessas medidas ou que sequer foram consultados. Seria uma surpresa negativa saber que eles concordaram com a iniciativa do chefe do Executivo.

Ambas as hipóteses, todavia, afrontam contra todos nós brasileiros, que sofremos os efeitos nefastos de uma crise provocada por este tipo de politização de assuntos eminentemente técnicos.

É triste perceber que a condução da economia, principal motor da prosperidade nacional e sustentáculo primordial das transformações e conquistas sociais em qualquer nação e em qualquer tempo, continua desprotegida e à total mercê da conjuntura política.

É preciso criar mecanismos de salvaguarda econômica mais eficientes no Brasil. Assuntos estratégicos e técnicos, como o equilíbrio das contas públicas, não podem estar submetidos aos desejos insaciáveis de políticos inescrupulosos que pretendem tomar ou se manter no poder a qualquer custo.

Mas, por enquanto, parece que ainda teremos que conviver com este governo novo de hábitos velhos. E que Deus nos proteja!

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

08 de junho de 2016, 12:30

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