Um líder de verdade – por Gustavo Falcón

O Recôncavo baiano amanheceu mais triste no último dia 8 de setembro com a morte de Salustiano Coelho de Araújo, nascido em 1922. Ex-prefeito de Cachoeira numa gestão inovadora e progressista, líder maçônico da Loja Caridade e Segredo, líder religioso, dirigente do Centro Espírita Obreiros do Bem, Salú era, sobretudo, um homem admirado e querido pela comunidade, onde exerceu durante a maior parte de sua longa vida, o ofício de boticário.

Sábio conselheiro, cultivou amizades em todas as classes e não fosse sua deliberada opção pela simplicidade teria ganho projeção ainda maior. Sorriso sempre no rosto, sua frase preferida após a conversa com todos era “vamos em frente”.

À frente da Prefeitura, apoiou decisivamente a agricultura familiar, a defesa do meio-ambiente e inaugurou um estilo novo na política: sem furto, com amor e sem qualquer obsessão de carreira. Após seu único mandato, voltou para sua vida de fé e de ajuda ao próximo.

Nascido numa terra que projetou para a política nomes importantes como Ernesto Simões Filho e Lídice da Mata, Salú era um autêntico líder comunitário, que por obra de seu filho, o historiador Luiz Antônio, Lú, adentrou a política para num surto renovador, livrar o ambiente local das mesquinhas mãos de velhacos, cuja missão é assaltar com voragem o exíguo orçamento municipal.

Num gesto de bondade e altruísmo, Salú abdicando momentaneamente da sua vida de paz, abraçou a jovem esquerda nos anos 90 do século passado para fazer a vida de seu povo melhor.

Aclamado na Santa Casa da Misericórdia por cachoeiranos que foram prestar a última homenagem a ele, Salú já faz uma falta enorme no país que é o Recôncavo, onde a honestidade é um valor em extinção. E o enxofre perfuma as ante-salas do poder.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br