terça-feira, 16 de abril de 2024

Tecnologia e medicina: em busca do equilíbrio – por Dr. José Amandio

Os avanços tecnológicos na medicina promoveram ganhos indiscutíveis. Facilitaram o diagnóstico mais preciso e mais rápido, aumentaram o conhecimento nas diversas áreas médicas, permitiram terapêuticas mais específicas e adequadas principalmente nas últimas décadas.

Por outro lado, o conceito de relacionamento humano na medicina ocidental é relativamente recente e acredita-se que tenha surgido nos últimos séculos, sendo hoje um tema extremamente atual.

A questão que tem surgido é se esses avanços tem sido positivos no relacionamento médico-paciente, especialmente no momento atual, quando ocorre uma demanda maior tanto dos pacientes quanto dos médicos e facilidades de utilizarmos cada vez mais exames sofisticados e precisos. A necessidade de um diagnóstico preciso com o crescimento tecnológico é muitas vezes acompanhado de um redução da participação crítica do médico promovendo uma mudança no relacionamento médico e paciente. O médico moderno domina técnicas de precisão e um grande conhecimento sobre as doenças, mas muitas vezes sabe muito pouco ou nada sobre o doente.

Estudos apontam que muitos pacientes referem-se mais impactados por uma relação médico-paciente mais empática do que pelas técnicas ou tratamentos de ponta adotados. Muitos aspectos psicossociais do paciente são negligenciados nas análises das doenças, esquecendo como esses aspectos podem influenciar na conduta terapêutica e na sua adesão. A inevitável evolução de subespecializações e o uso da tecnologia sem uma análise crítica mais completa, criou uma visão incompleta do médico atual sobre o doente, descaracterizando a medicina como arte.

Interromper a evolução do conhecimento é inútil e insensato. A avidez por conhecimento é inerente a natureza humana. Devemos estar atentos as mudanças da formação profissional, valorizando modelos que contemplem a maior atenção ao doente e não só a doença, com maior ênfase à formação humanística do médico.

Felizmente essa formação holística tem sido motivo de diversos estudos em várias áreas da medicina e vem sendo buscada por diversos profissionais, agregando ferramentas que permitem uma melhor compreensão do paciente tanto a nível físico como emocional. Por mais informações e avanços que possamos desenvolver, ainda não há maquinas ou equipamentos que substituam um toque, um olhar que transmitem humanidade e a segurança para um paciente.

Dr. José Amandio é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialista em cirurgia plástica. Ele é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Santa Izabel e escreve quinzenalmente a coluna de saúde do Toda Bahia. E-mail: clinicajamandio@gmail.com

25 de setembro de 2016, 12:00

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