sexta-feira, 29 de março de 2024

Que a civilização Rapa Nui nos sirva de exemplo – por Tatiana Matos

Apesar das controvérsias entre os cientistas, pesquisas apontam que a civilização Rapa Nui, moradora da Ilha de Páscoa, localizada ao Sul do Chile, no Oceano Pacífico, foi praticamente dizimada no momento que deixou de ser sustentável. Ou seja, com o desenvolvimento da Ilha a demanda por matéria-prima, energia, alimento e água só crescia e agregado a isto, tais recursos eram mal utilizados e desperdiçados, estes fatos desequilibraram a equação a ponto da demanda ser superior a capacidade de suporte que o ecossistema que provia estes recursos.

Estudiosos destacam que o povo rapa nui tinha uma intensa espiritualidade e para cultuar seus ancestrais esculpiam os Moais, as gigantes estátuas, que encantam os turistas que visitam a Ilha. As referidas estátuas, por seu turno, tinham o condão de demarcar terra e apontar a liderança politica dos clãs e ao longo do tempo eram transportadas de um lugar para outro.

Os imensos totens eram relocados sob o tronco de árvores ao longo da ilha de tempos em tempos com uma depredação sistemática da única floresta da ilha e então faltou floresta para sustentar a vida naquela comunidade, o rio, que era perene passou a ser sazonal, dificultando de sobremaneira o suprimento de água, com a falta de água de imediato faltou alimento, como não poderia ser diferente, como diz o ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”, iniciaram as disputas, sobrevindo a guerra e a violência. As regras de convivência foram rompidas em nome da sobrevivência e de acordo com registros arqueológicos existe a indicação inclusive de canibalismo.

Enfim, o colapso ambiental da Ilha de Páscoa e seu consequente declínio deveria servir de exemplo para a nossa geração. Afinal, hoje somos uma população de 7,3 bilhões de habitantes, com a possibilidade de chegar perto de 10 bilhões no ano de 2050, segundo as projeções, em um planeta cujos recursos naturais são finitos.

O escritor Jared Diamond em seu livro ”Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, alerta sobre o futuro das civilizações e como aprender com os erros do passado e evitar que as nações colapsem por problemas ambientais. Segundo Jared as sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram bem mais sucedidas ao antecipar às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguir sobreviver à elas.

Nos dias atuais, temos conhecimento, mas, nos falta habilidades, atitudes e valores para um presente e um futuro sustentável. Precisamos repensar urgentemente e com seriedade o formato de exploração dos recursos naturais e corrigirmos o rumo da nossa civilização antes que seja tarde demais.

Tatiana Matos é advogada, mestra em Desenvolvimento Sustentável na UnB, professora, consultora e sócia-coordenadora da Área Ambiental no Escritório Romano Advogados e Associados. Ela escreve às quintas-feiras sobre Meio Ambiente no Toda Bahia. E-mail: tatiana-matos@uol.com.br

28 de janeiro de 2016, 10:10

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