terça-feira, 16 de abril de 2024

Quando a autoria do terror interessa a todos os lados – por Ricardo Noblat

Você sabia que o número de atentados extremistas no mundo todo caiu 12% em 2015 em relação ao ano anterior? Em 2014 foram registrados 16.840 atentados. No ano passado, 14.806.

O número de atentados na Europa e nos Estados Unidos cresceu no mesmo período, embora corresponda a menos de 3% do total. Na Europa saltou de 214 para 321. Na América, de 34 para 62.

Os números foram extraídos pela BBC Brasil do Global Terrorism Database, banco de dados coordenado por grupo de pesquisadores com sede na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

“É muito cedo para concluir que os ataques terroristas estão se movendo do Oriente Médio e da África em direção à Europa”, avalia Reinoud Leenders, pesquisador professor do King’s College, de Londres. Que aduz:

– Tem muito menos cobertura de mídia em relação aos ataques fora do mundo ocidental. Na verdade, o número de ataques no Oriente Médio é tão grande quanto o número de mortos e feridos que eles provocam.

Os chamados “lobos solitários” agem em maior número no Hemisfério Norte. Foram responsáveis por 70% dos ataques nos países ocidentais de 2006 a 2014.

Mas a maioria dos atentados por eles cometidos nada teve a ver com o fundamentalismo islâmico, mas com extremismo de direita, nacionalismo e ações políticas antigoverno, conforme o Global Terrorism Database.

O Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado que matou em Nice, na França, 84 pessoas. O autor do massacre seria “um soldado do EI”. Interessa para o Estado Islâmico que assim tenha sido.

Por quê? Porque quanto mais atentados ele cometa ou reinvindique, mais aumentam suas chances de recrutar aspirantes a terroristas. Mais aumentam também suas fontes clandestinas de financiamento.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse que Lahouaiej-Bouhlel, o motorista do caminhão, estaria ligado, de uma forma ou de outra, a grupos radicais islâmicos.

O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, disse algo diferente: “Temos um indivíduo que não era conhecido pelos serviços de inteligência por atividades ligadas a radicais islâmicos”.

Por isso, Cazeneuve não pode confirmar que o motorista assassino agiu por motivos ligados ao jihadismo.

Lahouaiej-Bouhlel bebia sempre, não respeitava o Ramadã e não frequentava mesquitas. Era uma pessoa rude e instável, segundo vizinhos dele. Estava desempregado e fora abandonado pela mulher.

Para o governo francês, porém, é conveniente que ele seja visto como um terrorista. Do contrário, o governo poderá ser responsabilizado por não ter garantido a segurança dos que passeavam na orla de Nice.

Em atentados anteriores na França, todas as forças políticas se uniram ao governo para condenar as ações que mataram quase 160 pessoas. Desta vez, não.

# Artigo publicado originalmente no Blog do Noblat.

18 de julho de 2016, 08:20

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