sexta-feira, 19 de abril de 2024

Produtores do PIB brasileiro querem o impeachment de Dilma – por José Lopes

Diante da crise econômica e moral que o País vem passando desde 2014 com as revelações da corrupção na Petrobras, as confederações nacionais da Agricultura (CNA), da Indústria (CNI), do Comércio (CNC), do Transporte (CNT) e tantas outras entidades que representam os setores produtivos brasileiros declararam apoio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Responsáveis pelo financiamento das campanhas de grande parte dos congressistas, esses setores têm capacidade de influenciar deputados federais e senadores a votar neste domingo (17) a favor do impedimento do mandato da presidente petista.

No que interessa a esta coluna de agronegócio, vale dizer que muito mais do que o rombo nas contas públicas provocadas pelas “pedaladas fiscais”, pesou para a decisão da Confederação Nacional da Agricultura e de grande parte da Frente Parlamentar da Agricultura de apoiar o impeachment de Dilma a promessa feita por movimentos em defesa da reforma agrária dentro do Palácio do Planalto, na presença da própria presidente, de ocupar gabinetes e fazendas com o objetivo de forçar os parlamentares a votar contra o impeachment, que os grupos de esquerda chamam de “golpe”.

“Ontem dizíamos na passeata ‘vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles, porque se eles são capazes de incomodar um ministro do Supremo Tribunal Federal, nós vamos incomodar também as casas, as fazendas e as propriedades deles’. Vai ter luta e não vai ter golpe”, prometeu Aristides Veras dos Santos, tesoureiro da Contag com a anuência da presidente. E, como se não bastassem as ameaças, chamou o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, de “golpista”.

Desrespeitar a opinião política do outro não é a melhor estratégia para convencê-lo a concordar com uma tese ou muito menos ameaçando invadir suas propriedades. Ninguém, em sã consciência, aceitará tomar uma decisão debaixo, literalmente, de foices e facões.

De formas que nem o câmbio favorável para as lavouras voltadas à exportação, nem a inflação dos preços dos gêneros alimentares nas capitais brasileiras e nem mesmo a decisão da ex-presidente da CNA e atual ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), de permanecer ao lado da presidente Dilma, foram suficientes para convencer a CNA e os ruralistas a apoiar o governo atual.

Muito mais do que o “toma lá, dá cá” dos cargos e ministérios oferecidos pelo governo e pela oposição, os parlamentares estão levando em consideração a opinião de suas bases políticas e, principalmente, o entendimento dos seus tradicionais financiadores de campanha sobre as consequências do impedimento da presidente.

Neste domingo, o parlamentar que tiver forte relação com o campo, com a indústria, com o comércio ou com os meios de transporte, enfim, com os produtores do PIB do Brasil, dirá “sim” ao impeachment. A esperança é de que um novo governo possa trazer a estabilidade necessária para fazer o País se recuperar.

José Lopes é jornalista, diretor-executivo do Toda Bahia e escreve quinzenalmente aos domingos sobre Agronegócio. E-mail: j.lopes@todabahia.com.br

17 de abril de 2016, 07:00

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