sexta-feira, 29 de março de 2024

Política e trambique – por Gustavo Falcón

No mundo unipolar do pós-socialismo a direita conversa com a esquerda com naturalidade e sem consciência de culpa. Salvo no Senado brasileiro, onde uma estranha aversão (não seria atração?) polariza tais posições em campos repulsivos, num anacronismo midiático sem precedentes, embora todos saibam que tais oponentes televisivos prezam grande intimidade fora do alcance dos jornalistas.

A visita de Temer à China é uma demonstração da inutilidade das barreiras ideológicas quando o que está em jogo é a vida mercantil. Nem o interino legitimado é de esquerda nem o Governo chinês é de direita. O assunto da visita é dinheiro e ele não tem pátria nem identidade.

Só para os dinossáuricos comunas ou socialistas do século XXI é que existem princípios e diferenças de classe e de interesses entre os que professam o socialismo e o capitalismo. Trata-se de um fundamentalismo superado. Assim como o PT nunca foi a esquerda no poder, mas um simulacro sindical-populista, Temer é a herança peemedebista do PT, um dos maiores fiascos da história das lutas populares do mundo contemporâneo.

Aliás, em matéria de fiasco, a História terá que escolher qual o maior: Lula, Dilma ou Temer. Cada qual, é claro, no seu cada qual.
Ao povo brasileiro restará a esperança de que ao fracasso de um partido de extração popular e em pleno proscênio de sua desqualificação, pinte no horizonte do possível uma luz no campo democrático que não tenha financiamento de empreiteiros nem a maquiagem do trambique do marketing.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br

05 de setembro de 2016, 08:00

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