quarta-feira, 24 de abril de 2024

Pinto de Aguiar e o “enigma baiano” – por Pacheco Maia

Pinto de Aguiar. A menção desse nome imediatamente remete a uma transversal recentemente duplicada que liga a Avenida Paralela à Orla, famosa pelos motéis que ali se estabeleceram muito tempo antes do boom imobiliário dos últimos anos nesta região de Salvador.

Mas Manoel Pinto de Aguiar, o homenageado pela denominação do logradouro, deveria ser lembrado pelo exemplo de pensador e cidadão baiano sempre dedicado a desvendar os mistérios socioeconômicos da Bahia na busca de soluções para problemas que se avolumam até hoje.

Curiosamente, a Avenida Pinto de Aguiar liga outras duas com nomes de dois governadores que exerceram relevante papel na modernização do estado, Otávio Mangabeira e Luís Viana Filho. Contemporâneo de ambos, Pinto de Aguiar era também da mesma cepa do reitor Edgard Santos e do economista Rômulo Almeida.

Pinto de Aguiar integrava uma geração de homens públicos que pensava e planejava uma Bahia Grande em um Brasil, considerado o “País do Futuro”. Se o escritor austríaco Stefan Zweig enxergara tantas potencialidades na Terra de Pindorama, Pinto de Aguiar tentava desvendar o “Enigma Baiano”.

Essa expressão cunhada por ele se baseava na condição de um estado que fora uma das principais economias do País até o Século XIX, dotado de recursos energéticos e naturais, minérios, terras e extenso litoral, mas que permanecia, em meados do Século XX, em situação de atraso econômico e desigualdade social.

Quando se vê a perda de competitividade baiana nos últimos anos, refletida na queda da nona para a 13ª posição no ranking nacional, divulgado pela revista inglesa The Economist, constata-se a atualidade do ensaio “Notas sobre o Enigma Baiano”, escrito há mais de 60 anos por Pinto de Aguiar.

Nesse texto, ele já explicava: “Recursos naturais e energéticos, mas não dinamizados, mão-de-obra abundante, mas não qualificada, portos bons, mas não aparelhados, não bastam para desenvolver uma região”. Ao apresentar o planejamento como terapêutica, ele afirma: “Planejamento não significa estatismo, e sim demonstração de que o homem tem capacidade para dirigir, em termos racionais, os seus próprios destinos”.

O ambiente democrático é destacado por Pinto de Aguiar como o mais apropriado à formulação das políticas necessárias: “… as soluções democráticas são as melhores,… é preciso esclarecer o mais possível o povo, a fim de que este pressione os corpos políticos que, como detentores do poder de decisão, são os que podem e devem agir na criação dos corretivos necessários ou da eliminação dos óbices existentes”.

Apesar dos avanços e desenvolvimento de sua economia, que deixou de ser apenas agroexportadora para ganhar peso industrial, a Bahia ainda sofre com as fragilidades apontadas por Pinto de Aguiar: potenciais naturais não explorados, mão de obra desqualificada e infraestrutura precária.

O Enigma Baiano perdura nesta segunda década do Século XXI. No mesmo artigo, Pinto de Aguiar dá a dica de que não será com paternalismo estatal, que o resolveremos. O que faremos, então, diante de um governo que se orgulha de a Bahia ser a campeã em beneficiários do Bolsa Família?

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário às sextas-feiras no Toda Bahia. Email: pacheco.maia@todabahia.com.br

22 de julho de 2016, 12:00

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