quarta-feira, 24 de abril de 2024

Os símbolos do Sábado Santo – por Davi Lemos

A Semana Santa celebrada pelos cristãos católicos tem um princípio, um meio e um auge, dispostos no chamado Tríduo Pascal, iniciado com a Quinta-feira Santa e a Sexta-feira da Paixão. Mas toda a Semana Santa caminha para o Sábado, como me explicou certa vez numa conversa o bispo de Petrópolis (RJ) e ex-bispo-auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Gregório Paixão. É na noite de sábado que, em todas as paróquias se celebra a Vigília Pascal, chamada de “vigília das vigílias”, quando se canta o “Exultet” e, movidos por alegria pela ressurreição de Jesus Cristo esperada em silêncio solene, os fiéis chegam a exaltar a culpa de Adão, “que nos fez merecer tão grande Redentor”, diz o canto.

É engraçado que muitos pensem, inclusive os mais devotos católicos, que as principais datas cristãs sejam as do Natal ou do Domingo de Páscoa. Mas é realmente o Sábado de Aleluia.

Todo este itinerário começa com a queda de Adão. O orgulho foi para Adão um deus, o que causou a perda dos dons antigos, tornando necessária a redenção que viria com Jesus, que, sendo Deus, quis passar pela morte. A celebração deste dia traz simbologias que fazem referência à luz de Cristo que vence as trevas. A fogueira colocada em frente às igrejas, cujo fogo é utilizado para acender o círio pascal, representa que o homem foi feito para a luz que nos é transmitida.

Fogo – O grande símbolo da vigília pascal é o fogo. O fogo purifica, e o Cristo é a própria luz. Biblistas especialistas nos escritos de São João explicam que, já no começo de seu evangelho, o teólogo do amor de Deus, como é conhecido, ressalta que “a luz (Jesus) veio ao mundo e as trevam não a superaram”.

O círio pascal é uma grande vela que representa o Cristo. Após ser aceso, entra no templo ainda totalmente escuro, menção ao tempo em que o corpo de Cristo esteve sepultado. No círio estão inscritas as letras gregas alfa e ômega, a indicar que Jesus é o princípio e o fim das coisas, e o número do ano em curso, o que indica que a Ele pertence o tempo e a eternidade. A grande vela recebe cinco incisões com cravos que representam as chagas do Crucificado.

Nesta celebração, há uma recapitulização do antigo testamento ao novo. As luzes são acesas, os sinos são tocados e é cantado o Aleluia, que não é entoado no tempo que precede a Semana Santa, a Quaresma, marcada pela penitência. Canta-se ainda o Glória, ou seja, a beleza daquele que ressuscitou. Os católicos referem-se à ressurreição como “o fato histórico mais estupendo do mundo. A fé dos cristãos tem ali o seu fundamento; por isso tentam questionar e duvidar deste fato”, disse-me Dom Gregório.

Judas Iscariotes – O Sábado de Aleluia é também o dia quando se costuma malhar Judas, discípulo que se notabilizou pela traição a Jesus Cristo, que foi entregue pelo apóstolo aos sacerdotes do Templo de Jerusalém por 30 moedas de prata. “Mas se a gente acredita na misericórdia de Deus que chegou até Adão, porque não pensar que ela tenha chegado a Judas?”, questionam alguns teólogos.

Judas era um zelota, e como tal integrava parcela do povo de Israel que esperava um messias que libertasse militarmente seu povo. Dom Gregório entende que a traição do apóstolo Pedro, amigo de Jesus, que o negou três vezes, pode ser vista como pior que a de Judas. “Judas era visto como ladrão, que roubava o caixa comum dos apóstolos”, explica.

A diferença é que Pedro se arrepende, deixando-se ser redimido por Cristo, enquanto Judas se desespera e se fecha a este perdão, suicidando-se. “Jesus perdoaria a Judas como perdoou a Pedro, sem perguntar porque ele tinha feito o que fez”, acredita. “Jesus não tem ressentimento, pois sabe que a Igreja tem a fisionomia de seus filhos”, acrescenta. Gregório Paixão descreve a malhação de Judas como “bullying religioso”.

Davi Lemos é jornalista. Trabalhou no jornal A Tarde, na Tribuna da Bahia, no Correio da Bahia e cobriu as eleições de 2010 pelo Portal Terra. Foi assessor da Comissão de Cultura da CNBB. Ele escreve sobre Religião no Toda Bahia. E-mail: davi_lemos@hotmail.com

15 de abril de 2017, 09:37

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