quinta-feira, 25 de abril de 2024

Os atrativos da vida monástica – por Davi Lemos

Foto: Irmã Maria Marina e a Madre Ana de Jesus do Carmelo da Bahia

“Quem a Deus tem, nada lhe falta: só Deus basta”, disse Santa Teresa de Ávila, a fundadora da Ordem Carmelita Descalça no século XVI. Quando celebram-se cinco séculos do nascimento da grande mística espanhola, jovens buscam, nos dias atuais, viver o mesmo ideal teresiano; e a capital baiana viu no dia 12 de dezembro um exemplo de que este ideal de “vivência do absoluto” é não somente viável, mas concreto.

No Carmelo da Bahia, localizado no bairro de Brotas, em Salvador, a jovem Maria Marina, de 23 anos, professou os primeiros votos de pobreza, obediência e castidade e abraçou a vida carmelitana. A vida monástica consiste numa doação completa à vida contemplativa, de oração contínua, desejando o absoluto, como foi dito, mas sem desejar ser grande coisa.

“No mundo, a pessoa pode apresentar um currículo e fugir daquilo que deve ser. Pode fundar (na Igreja) muitas pastorais, ter um doutorado, mas ter uma vida afetiva arrasada. O monge não tem como apresentar esse currículo, não tem como fugir do que tem que ser”, disse a Irmã Maria Marina da Mãe de Deus, nome que assumiu por conta de sua consagração radical.

Quando se menciona o “radicalismo” de um religioso, quase sempre associa-se tal posicionamento à intolerância ou extremismo raivoso – os exemplos do Estado Islâmico dão força à ideia de que a religião entorpece. Mas os monges vivem esta radicalidade não na imposição de um querer, mas na renúncia de todos eles.

Até mesmo para conceder a curta entrevista que utilizei para escrever este artigo, a Irmã Maria Marina pediu a permissão da Madre Ana de Jesus, superiora do Carmelo soteropolitano. As monjas tornam-se prisioneiras por amor, tendo como único desejo configurar-se perfeitamente a Cristo; prisioneiras como Cristo foi aprisionado. Tornarem-se prisioneiras e abdicar dos desejos é o eloqüente canto de liberdade dos monges, bem distinto do infantil e megalômano desejo contemporâneo de submeter à própria vontade todas as coisas.

Nos oito dias de retiro que realizou antes da profissão dos votos, a jovem monja não encontrou respostas precisas para explicar cada um dos passos. “Não há como explicar. Santa Terezinha (do Menino Jesus, que viveu na França na virada dos séculos XIX e XX) dizia que há páginas que só serão lidas no Céu”, disse a monja Maria Marina, para quem a vocação pode ser descrita como exercício constante da caridade.

“A paciência tudo alcança” é outro verso do poema de Teresa de Ávila que abre este texto. Realmente, os monges cristãos, sem desejar grandes coisas, as alcançaram e construíram uma civilização: preservaram a cultura greco-romana, uniram-na à fé de Israel e legaram-nos o Ocidente como o conhecemos. Mas a análise deste trabalho dos monges será tema para um próximo artigo.

Por ora basta constatar que a crença dos monges no “buscai em primeiro lugar o reino dos céus e tudo vos será dado por acréscimo” (Mt 6, 33) deu bons resultados para cristãos e crentes de outros credos.

Davi Lemos é jornalista. Trabalhou no A Tarde, na Tribuna da Bahia, no Correio da Bahia e cobriu as eleições de 2010 pelo Portal Terra. Foi assessor da Comissão de Cultura da CNBB. Ele escreve quinzenalmente sobre Religião no Toda Bahia. E-mail: davi_lemos@hotmail.com

18 de dezembro de 2015, 00:25

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