sexta-feira, 29 de março de 2024

O refresco da Via-Crúcis – por Pacheco Maia

O mercado imobiliário vive uma verdadeira Via-Crúcis nos últimos tempos. Mas, em plena Quaresma, às vésperas da Páscoa, surge um refresco. Na última quarta-feira, a Caixa Econômica voltou a elevar o teto de empréstimos para a compra de imóveis usados. O limite, que tinha recuado a 50% do valor do bem, retornou a 70%. A medida, no entanto, pode ter um efeito mais propagandístico do que real.

Quem está interessado em adquirir um apartamento, por exemplo, de R$ 200 mil e só tem R$ 60 mil (30%), agora vai poder pelo menos tentar comprá-lo, requerendo o financiamento dos demais R$ 140 mil (70%). O problema é conseguir a liberação do empréstimo pela Caixa. Embora haja uma significativa queda na demanda por financiamentos, os recursos continuam escassos.

Os dados oficiais comprovam isso. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) informa que o número de empréstimos com recursos da poupança para a compra e construção de imóveis caiu 58,3% no comparativo do primeiro bimestre de 2016 com o de 2015. Neste ano, se financiou menos imóveis do que a metade do ano passado.

A principal fonte dos empréstimos imobiliários é a poupança, que todo mês vem sofrendo a perda de recursos. O movimento é de migração das economias para outros investimentos mais rentáveis ou retiradas constantes de poupadores para pagamento de dívidas. A tendência infelizmente é negativa, em sintonia com a recessão profunda por que passa o país.

A elevação do limite de financiamento para a aquisição de usados e a também reabertura de empréstimos para o segundo imóvel pela Caixa, principal agente financeiro do mercado imobiliário, são medidas que deveriam contribuir para dar um alento ao setor. Afinal, quem quer mudar para um apartamento novo precisa vender o velho. O mercado precisa dessa retroalimentação.

A pedra no meio do caminho no caso é a crise econômica nacional. O aprofundamento da recessão provoca uma escalada de desemprego que inibe bastante a iniciativa da compra de um imóvel, um bem que exige o comprometimento de renda futura para a quitação do financiamento.

Ameaçada pelo impeachment decorrente de tantas derrapagens e irresponsabilidades administrativas, sem falar dos ilícitos sob investigação da operação Lava Jato que a atingem, a presidente Dilma tenta se virar nos 30 para salvar o mandato. Pelo jeito, enquanto houver chance de se safar, não vai poupar o anúncio de medidas que alimentem alguma esperança, mesmo que sejam completamente inócuas na atual conjuntura.

Para incentivar a concessão de crédito imobiliário, por exemplo, o governo já deixou a gestão das carteiras de crédito imobiliário dos bancos um pouco mais frouxa, para que tenham margem de manobra para negociar suas carteiras de empréstimos do setor, com a redução dos depósitos compulsórios. A melhor saída, no entanto, continua sendo a de Dilma do Palácio do Planalto.

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário às sextas-feiras no Toda Bahia. E-mail: pacheco.maia@todabahia.com.br

25 de março de 2016, 13:15

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