sexta-feira, 19 de abril de 2024

O País desgovernado – por Rommel Cavalcanti

O Brasil é um país sui generis. Vivemos, atualmente, uma verdadeira hecatombe interna, embates institucionais de toda ordem, os Três Poderes não conseguem se entender nem entre eles e nem intramuros, casos escabrosos de corrupção envolvendo os principais políticos que ocupam cargos de destaque, a população indo às ruas massivamente para protestar e a economia seguindo seu curso ladeira abaixo, desgovernada e sem freio.

Em meio a esse caos político, institucional e econômico, os detentores do poder permanecem em letargia. Tentam apenas salvar a sua própria pele dos escândalos que espocam diariamente na mídia, delatados pelos seus parceiros de trambiques, e dando as costas para as necessidades sociais, como se o sofrimento por que passa toda a sociedade neste momento de crise não lhes dissesse respeito.

Fora do mundo dos palácios suntuosos onde esses atores trafegam e encenam um teatro do absurdo, mentindo descaradamente em discursos diante de câmeras e microfones, uma horda de mais de oito milhões e meio de brasileiros, segundo dados do IBGE, perambula pelas ruas das nossas cidades em busca de emprego. Nesse mundo real, não prosperam o palavrório empedernido nem os rapapés das antessalas de gabinetes. Também não têm valia as assinaturas em papéis e documentos redigidos por advogados influentes, que são enviados às cortes encarregadas de julgar condutas criminosas e práticas de atos nefastos.

No mundo em que vivemos, é preciso pagar contas e fazer contas, pois o tamanho do sofrimento se expressa em números. Números que nos dizem que a quantidade de pessoas desempregadas cresceu quase 30% em 2015, em comparação com 2014. Isto significa que quase dois milhões de postos de trabalho desapareceram em um ano, despejando esta quantidade de cidadãos – muitos jovens e, ainda pior, pais e mães de família – nas filas intermináveis e desesperadoras dos que procuram por algum tipo de ocupação em troca de salário para manter a si e aos seus.

Comas contas públicas escangalhadas por gestões incompetentes, irresponsáveis, perdulárias e corruptas, o aparato estatal brasileiro está aos frangalhos. Como reflexo dessa crise fiscal, a atividade econômica está em queda e cada vez mais empresas diminuem de tamanho ou fecham as portas. A inflação alta espanta o consumo e os economistas especulam a sua subida até o final do ano, piorando as projeções dia após dia.

Os impactos dessa crise monumental atingem diretamente a população. Para se ter ideia do que isto representa para os trabalhadores, a taxa de desemprego calculada para o último trimestre de 2015 foi maior quase 41% do que aquela colhida no quarto trimestre de 2014.

O mercado vem dando seu recado diariamente. Os índices da bolsa de valores e as taxas de câmbio variam de acordo com as perspectivas de mudança, melhorando quando as notícias apontam para uma alteração no panorama político (por exemplo, com os rumores de impeachment ou renúncia da presidente Dilma) e piorando quando o governo reage (por exemplo, com os rumores de que Lula vai assumir um ministério).

Em um país civilizado, onde a classe política tenha um mínimo de responsabilidade social, jamais a sociedade estaria jogada à própria sorte, como está acontecendo aqui no nosso país. Mas é demais esperar que esta casta de políticos de quinta categoria,que se apresenta atualmente no Brasil, olhe para o sofrimento da população, notadamente a parcela mais pobre, e abra concessões às suas prerrogativas de poder em prol de quem realmente precisa e nunca é ouvido nem atendido no que precisa.

Esses arautos da agonia jamais largarão o osso. Lula, Dilma e seus asseclas continuarão tramando estratagemas para a sua manutenção no poder e a fuga da justiça, mesmo sabendo que perderam qualquer condição de governar o país. Não querem e nem conseguem pensar ou produzir nada de positivo. A oposição, por sua vez, também envolvida em escândalos, continuará tentando destituí-los do poder e tomá-lo para si, sem apresentar uma agenda que conduza o Brasil às transformações necessárias.

E como se resolve a crise econômica? E as consequências para o povo? “Povo? Que povo? Dane-se o povo!”, dizem eles. Continuaremos, assim, perdidos e sem rumo,sabe-se lá até quando. E la nave va…

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

16 de março de 2016, 15:00

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