sábado, 20 de abril de 2024

O mito que a Terra é o Planeta Água – por Tatiana Matos

Com 12% a 16% da água doce disponível na Terra, o Brasil é um país rico nesse insumo que a natureza provê de graça. Observando assim, os brasileiros deveriam ficar satisfeitos, bem tranquilos e confortáveis, pois, aparentemente recurso hídrico não seria mais um problema dentre dos inúmeros a ser enfrentados por nossa sofrida população.

Agora, observem como estes percentuais podem nos enganar: 70% da superfície do planeta está coberto por água, acontece que deste percentual temos 97% composto de água salgada dos mares e oceanos, sobrando 3% de água doce, no entanto, 2% estão presos na forma de gelo e neve, restando para uso humano apenas 1% deste total.

Acontece que a conta e o resultado não são tão básicos assim. Afinal, 0,9% destes 3% estão armazenados em aquíferos subterrâneos e não nos rios e lagos da superfície, restando efetivamente para uso humano APENAS 0,1%. Ou seja, este é o percentual real que deve sustentar os mais de 7 bilhões de habitantes do suposto planeta azul.

No ano de 2014, uma das mais graves crises hídricas de abastecimento de água se abateu sobre as regiões Sudeste e Centro-Oeste, causada principalmente pela escassez de chuvas e apenas neste momento de crise e restrição grande parte da população voltou seu olhar para a necessidade de se respeitar este bem, que diga-se de passagem é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico e bastante disputado no mundo inteiro.

Como a memória do brasileiro é curta e o abastecimento de água se regularizou ninguém pensa mais em reduzir o consumo, racionar o uso de água e/ou fazer o reuso e como a crise hídrica também afetará ao abastecimento de energia elétrica, a economia, a alimentação e todos os detalhes do nosso dia a dia.

Iniciei a coluna mostrando aqueles percentuais com o objetivo de destacar que a ideia de que a água é e vai continuar sendo abundante no Brasil é uma falácia e precisa ser combatida urgentemente e que precisamos tratar com muita seriedade a nossa segurança hídrica.

Meu pedido para o coelhinho da Páscoa é que no Dia Mundial da Água (22 de marco) a sociedade e os nossos governantes façam o favor de assumir a realidade como ela é e não perder de vista quais são as providências imediatas e de longo alcance que deveríamos tomar, antes que cheguemos a proporções catastróficas com uso de violência, guerras e saques.

E que de hipótese alguma podemos tratar com romantismo um assunto tão sério como a água, afinal, estamos diante um colapso hídrico e como diria o ambientalista Dener Giovanini “Ou mudamos ou suminos. Simples assim”.

Tatiana Matos é advogada, mestra em Desenvolvimento Sustentável na UnB, professora, consultora e sócia-coordenadora da Área Ambiental no Escritório Romano Advogados e Associados. Ela escreve às quintas-feiras sobre Meio Ambiente no Toda Bahia. E-mail: tatiana-matos@uol.com.br

24 de março de 2016, 11:30

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