terça-feira, 16 de abril de 2024

O mercado em depressão – por Pacheco Maia

Depois da euforia, a depressão. Parece até a descrição dos efeitos por que passa um usuário de drogas, principalmente daquelas provenientes de alcaloides, como a cocaína. Não. Estou falando do mercado imobiliário mesmo. Depois do boom e quebra de todos os recordes de concessão de crédito e produção de imóveis, já tem gente com bastante experiência no setor a admitir que a barca está furada e afundando.

Agora quem bate recorde é o volume de distratos, alcançando quase metade dos imóveis que foram entregues no ano passado. Muitos desses cancelamentos de contratos não foram nem só por falta de capacidade de renda na hora do banco liberar o financiamento imobiliário. Foi precaução mesmo do quase comprador com as perspectivas sombrias do país.

O imóvel é um bem de valor alto. Cerca de 80% das vendas se realizam por meio de crédito com financiamento de longo prazo: 20, 30 anos. Nessa incerteza toda em que se encontra o país, quem quer se arriscar a ser despejado, porque, desempregado, ficou sem condições de arcar com as prestações? Hoje, então, a tomada do imóvel por inadimplência é bem mais rápida do que anos atrás.

Por sinal, é bom que se diga a maior segurança jurídica estabelecida no setor imobiliário nos últimos anos contribuiu bastante para a expansão do mercado nesse período. O investidor ficou mais seguro e protegido contra os contratempos da inadimplência, com a alienação fiduciária, e o comprador também quanto às construtoras aventureiras, com a lei do patrimônio de afetação.

Então, o que foi que houve para causar esse desarranjo todo no mercado atualmente? Somos vítimas de uma série de fatores conjunturais e derrapadas governamentais que indiscutivelmente causaram essa crise, reflexo do caos econômico em que vive o nosso país.

Numa economia fechada, comandada por um estado gigante e pesado, foram lançados o PAC e o Minha Casa Minha Vida, como alavancas desenvolvimentistas. Em um país carente de infraestrutura e grande déficit habitacional, mostrou-se até razoável que se tomassem medidas dessa natureza, que, diga-se de passagem, foram sugeridas pelo setor privado.

O problema revelou-se na execução dessas propostas. Com o governo metido pelo meio, a gente está vendo as perfomances fracassadas do PAC e do Minha Casa Minha Vida, ambos com resultados bem abaixo das expectativas e com alto índice de desvios de recursos. No caso do Minha Casa, há uma dívida bilionária com as construtoras. Nada diferente com as obras de infraestrutura do PAC.

Pois é, ninguém vai a lugar nenhum sem um bom timoneiro a conduzir o barco. Se faltam perícia e competência ao timoneiro no manejo do timão, a consequência natural é a embarcação ficar à deriva ou colidir o casco numa pedra e naufragar. Não consigo enxergar outro destino para o Brasil, enquanto o poder central estiver sob o comando da recalcitrante presidenta.

Enquanto isso, o desemprego, que já não está mole, promete pipocar ainda mais na construção civil neste e nos próximos anos. Com os projetos de infraestrutura parados e o mercado imobiliário com escassez de crédito e abarrotado de imóveis prontos a clamar compradores, a tendência é de paralisação das empresas do setor e, consequentemente, a eliminação de milhões de postos de trabalho.

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário às sextas-feiras no Toda Bahia. E-mail: pacheco.maia@todabahia.com.br

15 de janeiro de 2016, 14:30

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