O difícil e lento financiamento da safra em um ano de crise – por José Lopes

Para um setor que demanda um bom nível de planejamento como a agropecuária de alta precisão, perder o “time” na hora da liberação dos recursos necessários para o custeio da próxima safra pode ser pior do que a alta nas taxas de juros, que chegou a 37,3% em julho nos empréstimos agrícolas para pessoa física.

Com o objetivo de encontrar uma solução para este problema, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, convocou uma reunião no começo da semana entre representantes das instituições financeiras e dos produtores rurais.

Durante o encontro, ela comemorou um aumento de 30% no volume financiado em julho em relação ao ano passado, mas reconheceu que esse resultado se deve, em parte, à menor disponibilidade do pré-custeio no primeiro semestre que, segundo o Banco Central, foi 14% inferior em relação a 2014.

Kátia Abreu foi solidária ao “jus sperniandi” dos produtores, disse que “ninguém chora sem motivo”, mas tirou o time de campo na hora de pressionar os bancos. “Se o banco, que tem vontade de emprestar, sabe que o agronegócio é um bom negócio e encontra em determinadas situações, que são exceções, alguma dificuldade de emprestar e exige um pouco mais de garantias, não somos nós que vamos entrar nessa questão”, avaliou.

A decisão da ministra foi um balde de água fria nos produtores, que temem ainda a desaceleração da economia chinesa, principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, respondendo por 27,2% do total de vendas.

Neste cenário, a limitação do crédito agrícola e a demora na sua liberação certamente contribuirão para uma desaceleração do setor em 2015.

A boa notícia para os produtores continua sendo a valorização do dólar frente ao real, que fechou a semana com alta acumulada de 2,58% e cotado a R$ 3,58.

José Lopes é jornalista, diretor executivo do Toda Bahia e escreve aos domingos sobre agronegócio. E-mail: j.lopes@todabahia.com.br