sábado, 20 de abril de 2024

Maria, ponte para a paz entre cristãos e muçulmanos – por Davi Lemos

A Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, é sabidamente alvo de grande veneração entre muitos fiéis cristãos, como católicos, ortodoxos e parte dos protestantes. Também é sabido que, apesar de todo” pano quente” trazido com discursos politicamente corretos, a tensão entre cristãos e muçulmanos cresce e, mais uma vez, a mulher de Nazaré aparece como um porto seguro para o diálogo e a paz.

Por que Maria? A mãe de Jesus é também venerada pelos muçulmanos – a Virgem é citada 34 vezes no Alcorão, o livro sagrado do Islã. As visões sobre Jesus são díspares: para os cristãos, Cristo é Deus; para os muçulmanos, um profeta, um enviado de Alá. Mas sobre Maria concordam: é virgem imaculada e modelo para os que creem. A Igreja Católica, desde o Concílio Vaticano II, realizado na década de 1960, apontou para o diálogo com os não-cristãos e ressaltou este ponto de proximidade com os muçulmanos.

Na declaração Nostra Aetate (Nosso Tempo), os bispos católicos declararam que “embora (os muçulmanos) não reconheçam Jesus como Deus, veneram-no como profeta, prestam homenagem à maternidade virginal de Maria e a ela se dirigem, às vezes, com grande devoção”. Segundo o Alcorão, os anjos disseram: – “ó Maria! Deus te anunciou um Verbo, emanado d’Ele, cujo nome é o Messias, Jesus, filho de Maria; será ilustre nesta vida e na outra, e contará entre os diletos de Deus. Ele falará aos homens no berço, assim como, na maturidade, e estará entre os virtuosos”.

Os muçulmanos sufis, considerados aqueles que têm uma relação perfeita com Alá, chamam Maria de “Mãe Sabedoria” e “Mãe dos profetas e de todas as profecias”.

O profeta Maomé, ao falar de sua filha Fátima, disse: “Sereis a mais bendita entre todas as mulheres do paraíso, depois de Maria”. A própria Fátima disse que Maria era maior do que ela. E não é para menos, pois o livro sagrado do Islã dedica um capítulo inteiro à Mãe de Jesus, a Surata Maryam.

Neste ponto, as aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, em Fátima (Portugal), são vistas como um encontro entre muçulmanos e cristãos. Muitos muçulmanos associam a Virgem de Fátima à filha de Maomé e termina sendo um ponto de diálogo entre os crentes das duas religiões com raízes no patriarca Abraão, cuja fé originou primeiro o judaísmo.

Costuma-se dizer que sob o manto sagrado da Virgem todos se unem. Entre os cristãos, Maria é também chamada de rainha do ecumenismo, porque é a Mãe que acolhe a todos. E é evidente que acolheria, sim, na mesma casa onde estão os filhos cristãos, os muçulmanos que tanto a veneram. O Filho de Maria diz que seremos um só rebanho sob um só pastor, e parece que a pobre mulher de Nazaré é a escolhida para conduzir todo este povo ao mesmo redil.

Davi Lemos é jornalista. Trabalhou no A Tarde, Tribuna da Bahia, Correio da Bahia e cobriu as eleições de 2010 pelo Portal Terra. Foi assessor da Comissão de Cultura da CNBB. Ele escreve quinzenalmente sobre Religião no Toda Bahia. E-mail: davi_lemos@hotmail.com

04 de dezembro de 2015, 00:00

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