quinta-feira, 25 de abril de 2024

Maio cinzento – por Gustavo Falcón

Se tudo correr como o previsto no Senado, o PT desembarca do poder ainda na segunda semana do mês que começa. Uma década e meia, quase, a esquerda vai novamente para a oposição em meio a quadro deprimente, com dirigentes e colaboradores encarcerados por corrupção e organização de quadrilha e com o País vivendo uma forte recessão econômica e instabilidade política. Além disso, dividido, o que dificulta e muito a união necessária para superação das dificuldades.

A centro-direita se reagrupa e passa a comandar a política econômica a partir do afastamento de Dilma e o PT deverá viver um intenso processo de auto-crítica para se livrar dos erros cometidos na sua demorada e desastrosa trajetória como partido da situação. De volta aos sindicatos e aos movimentos sociais quem sabe reencontre sua identidade hoje seriamente comprometida pelos deslizes, facilidades, aburguesamento e transgressões cometidas em nome da governança.

Sem cargos e sem a máquina administrativa que usou e abusou, a esquerda vai ter que se reinventar para sobreviver e apeada do poder terá que explicar e convencer o movimento social porque não levou adiante compromissos históricos como a reforma agrária, a reforma política e a reforma fiscal, por exemplo. E terá que afinar seu discurso como um novo repertório porque não poderá combater de forma conseqüente aquilo que praticou durante o tempo em que esteve à frente dos destinos do País.

Caso consiga superar a sua própria crise, a esquerda chegará às eleições que se avizinham com alguma chance de preservar seus espaços ou mesmo crescer. Caso persista no desânimo que se abate sobre si não terá forças nem condições para entrar com força em qualquer disputa. E aí, nessa situação, perdendo densidade eleitoral, poderá mergulhar numa profunda quarentena e ter que aguardar bom tempo para reconquistar seu capital político.

A apertada vitória das últimas eleições presidenciais se consuma numa imensa derrota política caso o impedimento seja mesmo aprovado no Senado. Em todo caso, maio não será um mês que a esquerda brasileira possa manifestar seu lado festivo. De qualquer forma, é um momento triste tanto para o PT quanto para o conjunto da esquerda. É a vida.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br

02 de maio de 2016, 09:30

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