sexta-feira, 29 de março de 2024

Imagem do Brasil se deteriora rapidamente, diz fundação alemã

Por Daniel Rittner / Valor

BRASÍLIA – Não há solução à vista para a profunda crise política no Brasil, o presidente Michel Temer tem conseguido sobreviver com base em manobras questionáveis e o país perde importância no cenário internacional. A avaliação é feita — e com essas palavras — em um relatório divulgado hoje pela Fundação Konrad Adenauer, ligada à União Democrata-Cristã (CDU), o partido da chanceler alemã Angela Merkel.

Em seis páginas, o “think tank” germânico narra os principais acontecimentos desde a delação do empresário Joesley Batista e descreve como “farsa” o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chapa vitoriosa nas eleições presidenciais de 2014. A decisão mostra que “até mesmo a Justiça vem sendo mais e mais politizada”, escrevem Jan Woischnik e Alexandra Steinmeyer, que chefiam o escritório da Konrad Adenauer no Brasil.

Para eles, a coligação de partidos que sustenta o governo Temer está ameaçada de ruir. “O Executivo e o Congresso estão menos voltados ao ato de governar do que à contenção dos danos, enquanto a Justiça se politiza, causando prejuízos duradouros à democracia brasileira. Por enquanto, não há saída à vista.”

O relatório lembra que, na visão de observadores políticos, o processo de anulação das eleições de 2014 era tido como a possibilidade menos complicada de encerrar o mandato de um presidente “quase insustentável”. Cita que boa parte do Congresso Nacional e o próprio Temer são alvo da Operação Lava-Jato, mas que ele tem feito manobras para interferir nas investigações. “Não obstante”, pondera em seguida a fundação dos democrata-cristãos, “a saída de Temer tampouco parece ser a solução do problema”. Isso porque a escolha indireta de um sucessor provavelmente colocaria no Palácio do Planalto um representante do establishment político, que está contaminado pelos escândalos de corrupção e é visto com desconfiança por muitos brasileiros.

“O presidente Michel Temer perdeu credibilidade e continua conseguindo manter-se no poder por meio de manobras políticas questionáveis. Enquanto isso, as reformas estruturais urgentemente necessárias estão paralisadas”, conclui o relatório, que elogia a Lava-Jato. A operação é descrita como uma mudança na cultura de impunidade, chegando aos mais altos círculos do poder e do empresariado. Há, no entanto, um alerta: “A influência política nas investigações seria um sinal fatal para o Estado de Direito”.

No parágrafo final do texto, os representantes da Konrad Adenauer no Brasil avaliam que a imagem do país sofre prejuízos rapidamente no panorama internacional. “O Brasil tem se envolvido muito com questões internas, e as crises atuais tampouco têm permitido que o país volte sua atenção para acontecimentos além de suas fronteiras”, dizem.

Um dos sintomas da perda de importância, segundo eles, é a decisão de Merkel de não ter passado pelo Brasil no recente giro que fez pela América Latina — ela visitou a Argentina e o México no início de junho. As consultas de alto nível entre Brasil e Alemanha, que levaram a um convite oficial dos alemães para Temer ir a Berlim no começo do verão europeu, foram canceladas. “O Brasil, que já era considerado um ‘global player’, está desperdiçando seu potencial geopolítico. Esse isolamento é um passo que o Brasil não deveria arriscar, pondo a perder conquistas políticas e econômicas — mas não há saída à vista.”

23 de junho de 2017, 22:54

Compartilhe: