quinta-feira, 25 de abril de 2024

Escritor baiano que resgatou história dos negros no Brasil se emociona com Prêmio Machado de Assis

Foto: Reprodução / TV UFBA

Por Cláudia Nogueira

Considerado um dos maiores historiadores do Brasil, o baiano João José Reis contou, em entrevista exclusiva ao Toda Bahia, que recebeu a notícia de que havia vencido o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo conjunto da obra, com surpresa. Autor de diversos livros como “A Morte é uma festa”, “O Alufá Rufino” e “Rebelião Escrava no Brasil”, o pesquisador já recebeu uma série de premiações importantes, a exemplo do Prêmio Jabuti de Literatura, em 1992.

Mesmo com tantas premiações, o escritor revelou ao Toda Bahia que não tinha conhecimento de que estava concorrendo ao prêmio. “Recebi a notícia com surpresa, não tinha a menor ideia de que estava concorrendo”, disse. Reis contou também que ganhar a premiação que leva o nome de Machado de Assis tem um gosto especial.

“Todos os prêmios e honrarias que recebi foram importantes e me alegraram, mas este é especial, a começar pelo nome que o batiza, do maior escritor brasileiro, negro e abolicionista. Tem também, é claro, a instituição que patrocina o prêmio, aliás fundada por Machado de Assis”, afirmou.

O historiador, que dedicou boa parte da sua vida acadêmica a pesquisar a escravidão no Brasil, principalmente no século XIX, acredita que, apesar de escrever sobre temas variados, o assunto tenha chamado atenção especial da ABL.

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“Não escrevo apenas sobre escravidão. Aliás, meu livro de maior sucesso [A Morte é uma Festa] não trata desse tema. A escravidão tem sido também uma constante na minha pesquisa e nas minhas publicações, a começar pelo livro sobre a revolta dos malês. Parece que foi esta a parte da minha obra que mais chamou a atenção dos jurados. Isso pode ajudar a aumentar o interesse pela pesquisa e a leitura desse tema. Lembrando que durante a maior parte da história do Brasil vigorou a escravidão. A história da liberdade vai fazer 130 anos em 2018 e o Brasil começou, enquanto colônia escravista, no século XVI — basta fazer as contas”, contou.

Para João, a escravidão explica muito dos problemas que vivemos na sociedade brasileira hoje. “Não preciso dizer que a escravidão explica muitas das mazelas que o povo brasileiro enfrenta, com destaque para o racismo e as desigualdades racial e social, uma em geral associada à outra”, explicou.

Mesmo com uma obra tão vasta, o historiador segue surpreendendo. Atualmente, ele trabalha com um livro sobre o trabalho africano em Salvador. “O livro que está mais avançado no momento trata de trabalho africano em Salvador no século XIX. A obra gira em torno de uma greve de ganhadores em 1857, a maioria deles empregada no transporte de gente e mercadoria, movimento que parou a cidade por mais de uma semana”, revelou ao Toda Bahia.

João José Reis – é graduado em história pela Universidade Católica de Salvador, tem Mestrado e Doutorado pela renomada Universidade de Minnesota e vários pós-doutorados, que incluem a Universidade de Londres, o Center for Advanced Studies in the Behavioral Sciences da Universidade de Stanford e o National Humanities Center. Também foi professor visitante das seguintes universidades: Universidade de Michigan, Universidade Brandeis, Universidade de Princeton, Universidade do Texas e Universidade de Harvard. Atualmente é professor titular do departamento de história da Universidade Federal da Bahia.

01 de julho de 2017, 07:59

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