sexta-feira, 19 de abril de 2024

Dólar escala o “monte das incertezas” e ultrapassa R$ 4 – por Rommel Cavalcanti

O dólar bateu um recorde histórico e superou a barreira de R$ 4,00 nesta terça-feira (22). Fechou o dia valendo, mais precisamente, R$ 4,054, com valorização de 1,80%. Até então, a maior cotação da moeda americana frente ao real havia sido registrada em 10 de outubro de 2002, quando atingiu R$ 3,99 ao final do dia, pressionado pelas incertezas políticas que cercavam o primeiro governo Lula, que se iniciaria no ano seguinte.

Desta vez, como em 2002, as principais causas da valorização expressiva do dólar também têm como especial razão as incertezas políticas que cercam o governo Dilma. Desta feita, as dúvidas pairam sobre a capacidade do governo de articular-se com o Legislativo para implementar as medidas necessárias ao ajuste fiscal.

O clima de tensão do mercado foi ampliado devido à votação pelo Congresso dos 32 vetos de Dilma a projetos que elevariam as despesas de governo. Estima-se que o rombo nas contas públicas causado pela derrubada de todos os vetos seria de R$ 127,8 bilhões. Além disso, o ambiente no cenário nacional estava ainda mais intranqüilo devido à expectativa da perda iminente do grau de investimento do Brasil conferido por outras agências internacionais de classificação de risco (como já ocorreu em relação à Standard & Poor´s).

Os indicadores da nossa economia, da mesma forma, ajudam a aumentar o estresse do mercado. As projeções de retração do PIB, os números de arrecadação de impostos e o comportamento do mercado de trabalho são cada vez mais preocupantes.

O contexto internacional não tem ajudado a mudar a situação do câmbio. O Federal Reserve (banco central americano) vem sinalizando para um aumento da taxa de juros. Isto tornaria mais atrativo o investimento em papéis do governo americano e poderia fazer com que alguns investidores reposicionassem suas aplicações, retirando recursos do Brasil. As preocupações com a economia chinesa e a queda do preço das commodities no mercado internacional também são fatores que vêm pressionando o dólar.

Contrastando com todo o panorama negativo que se apresenta dentro e fora do país, a agência de classificação de risco Moody´s publicou que considera a situação brasileira melhor que a de outros países que perderam o grau de investimento. Sugeriu, ainda, que poderá manter o grau de investimento para o Brasil até o país sair da recessão, o que é uma boa notícia.

Outra notícia positiva e que pode trazer algum refrigério ao câmbio é que, em sessão que terminou às duas horas desta madrugada, o Congresso Nacional manteve 26 dos 32 vetos da presidente Dilma aos projetos de lei nefastos ao ajuste fiscal. No ritmo em que se encaminhavam as votações, provavelmente o governo sairia vitorioso em todas elas, mas a oposição decidiu se retirar estrategicamente para esvaziar o quórum e forçar a interrupção dos trabalhos, evitando uma derrota ainda maior.

O mercado abrirá nesta quarta-feira sob os impactos positivos da manutenção dos vetos para a busca pelo equilíbrio fiscal. Só não se sabe se isto será suficiente para frear a escalada do dólar frente ao real.

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

23 de setembro de 2015, 08:45

Compartilhe: