quinta-feira, 25 de abril de 2024

Desemprego a mil – Por Pacheco Maia

Cena urbana: carro parado em semáforo no cruzamento do Iguatemi, em plena luz do dia na ensolarada manhã desta sexta-feira. A janela está com o vidro pela metade. Ao volante, está uma jovem mulher. Repentinamente, um franzino jovem negro, com boné, se debruça do lado da motorista, que estava sozinha no automóvel. Do ângulo de quem está atrás, não fica clara a ação.

Mas o vendedor de raquetes mata-muriçocas flagra o comportamento criminoso. Parte para cima do bandido, xingando-o, chutando-o e esmurrando-o. Assustado, o rato foge e pula a mureta que separa a avenida das obras do metrô. Antes de desaparecer, ainda é possível ver seus olhos esbugalhados, quando se vira para trás para saber se alguém o persegue.

Corte para o artigo da semana. Essa cena pode ser considerada até banal diante das atrocidades noticiadas pela mídia. Foi testemunhada por mim nesta manhã de sexta-feira. Começo a escrever pelo meio da tarde. A imagem ainda permanece em minha mente, estimulando-me a refletir sobre os números do desemprego na construção civil. No ano passado, quase meio milhão de trabalhadores foram demitidos. A expectativa para 2016 é que o batalhão de desempregados dobre.

Em recente papo com uma jovem engenheira civil, que ainda se encontra trabalhando na profissão, ela me relatou a desesperada procura por emprego que está ocorrendo onde ainda há canteiros de obras. O baixo nível tecnológico da construção no Brasil faz dela bastante dependente de mão de obra em atividades que, em outros países, já foram mecanizadas. A pouca qualificação exigida para esses serviços torna-se também um irresistível atrativo para grande parte da população brasileira que permanece, digamos assim, desescolarizada.

Muitos operários são alfabetizados nesses canteiros. Chegam lá só com a vontade de trabalhar, ganhar algum de forma honesta. Com a crise que bateu de frente com o setor da construção, as portas estão fechadas para toda essa gente. O mercado imobiliário, em Salvador, por exemplo, onde se via obras por todos os quadrantes, hoje o que há são conclusões de prédios lançados há três, quatro anos. Muito pouca coisa a iniciar ou mesmo a ser lançada.

Num mercado onde, em 2010, houve o lançamento de 9,5 mil unidades, no ano passado, segundo a Ademi-BA, não chegou nem a 900 imóveis novos lançados: 895, menos de um décimo de cinco anos atrás. Com base nesses dados, pode-se imaginar o tamanho do desemprego na capital baiana. E o resultado disso não pode ser diferente da banalização de cenas como a relatada no início deste artigo.

Mas a presidenta armou o circo na última quinta-feira (28) com seu conselhão para anunciar que vão ser injetados R$ 83 bilhões em créditos na economia por meio dos bancos públicos. Para quem mesmo, cara pálida? Pro pião é que não vai ser. Afinal para ter acesso ao empréstimo consignado, o trabalhador vai ter que comprometer a multa do FGTS, que a empresa lhe paga por demissão sem justa causa.

Se o seguro desemprego já foi dificultado, agora tem mais essa, num momento nem um pouco auspicioso para o Brasil, quando o desemprego grassa adoidado de norte a sul. E a Bruxa do Planalto ainda quer nos enfiar a CPMF goela abaixo. Impeachment para ela e cadeia para o autor intelectual dela: Lula.

Pacheco Maia é jornalista, vencedor do Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo 2001 e escreve sobre mercado imobiliário desde 1998, quando iniciou na Gazeta Mercantil, onde atuou como correspondente até 2009. Ele escreve sobre Mercado Imobiliário às sextas-feiras no Toda Bahia. E-mail: pacheco.maia@todabahia.com.br.

29 de janeiro de 2016, 17:30

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