terça-feira, 23 de abril de 2024

Cuidado com a poça – por Gustavo Falcón

Para usar uma expressiva frase do novo livro de um velho amigo, Antonio Risério, o Brasil pode ser uma poça de água onde a gente se afogue ou oceano onde a gente navegue.

Ninguém sabe ao certo o que advirá após o afastamento definitivo do PT do poder. Se nos afogaremos numa fase melancólica e conservadora, com a perda de toda a energia da esperança utópica no País melhor, ou se vindo não sei bem de que setor ou lugar, algum vento otimista nos empurre para o sonho imorredouro de um novo projeto de nação.

Quem sabe a crise que já começa a colocar no desemprego nossos parentes e amigos não nos devolva a capacidade de recomeçar, livres da babaquice desse ciclo recente da vida brasileira baseado no consumismo desenfreado e na estúpida crença de que o cartão de crédito assegura acesso à felicidade.

Terminada a Olimpíada e consumada a eleição de outubro, o ajuste de Temer vai fazer com que saiamos todos desse interminável estado de suspensão que marcou o segundo mandato de Dilma. Mas nada assegura que a Operação Lava Jato vá perdoar tradicionais figurões que sustentam o novo governo.

Se a caça à corrupção persistir e não sofrer manipulação, fará tremer Brasília. O perigo é que essa nova onda de moralidade se transforme na poça aventada pelo romance de Risério, “Que Você é Esse?”, e que essa poça, sendo de lama e não de água, nos sufoque a todos.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br

22 de agosto de 2016, 07:30

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