quinta-feira, 18 de abril de 2024

Cachoeira arde em abandono – por Gustavo Falcón

Nessa última semana, mais um sobrado da cidade histórica de Cachoeira ardeu em fogo. Bem defronte de uma imensa edificação que serve de depósito de uma loja de eletrodomésticos, que teve em 2012 o mesmo destino.

Já são dezenas de casarões e sobrados de dois e três pisos guindados a triste condição de ruínas. Isso numa cidade tombada como patrimônio histórico e que poderia estar no centro do roteiro do turismo cultural pelo valor que tem.

Dessa vez, o incêndio revestiu-se no manto de uma tragédia porque tragou duas crianças de menos de cinco anos de idade, que foram deixadas trancadas num dos quartos do sobrado pela mãe.

Às vésperas do dia 25 de junho, data magna dos cachoeiranos por causa da sua importância para a proclamação da Independência, a destruição calou ainda mais fundo na consciência de todos.

Cidade do século XVI, estratégica na profissionalização do turismo baiano, Cachoeira continua sem Corpo de Bombeiros. Eles, se não tivessem chegado uma hora e meia depois de iniciado o trágico acontecimento, talvez não conseguissem salvar o sobrado, mas com certeza, teriam livrado as duas crianças da morte terrível entre as chamas.

Chega a insultar nossa inteligência a ausência de proteção contra incêndios nesta que é a Capital do Recôncavo e que pode vir a ser uma joia do nosso turismo cultural, como tantas outras cidades pelo Brasil e pelo mundo.

Estimei por baixo o ativo imobiliário local e cheguei a uma quantia espantosa, sem levar em conta igrejas barrocas, conventos e edificações administrativas como a Casa de Câmara e Cadeia, de difícil mensuração.

A valores correntes, mais de R$ 1 bilhão de reais, levando-se em consideração que um sobrado modesto hoje custa ali mais de R$ 500 mil. Pois bem. A falta de um Corpo de Bombeiros passa a ser uma necessidade de quem paga impostos e vive nessa cidade.

E o Estado, que discursa mais que trabalha para proteger o patrimônio histórico deve ser acionado para proteger o patrimônio das pessoas.

Quem sabe agora, com o sacrifício de duas pequenas criaturas, as autoridades acordem para o fato e a população desperte para esse direito fundamental que é o de assegurar a sua propriedade.

Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br

20 de junho de 2016, 10:00

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