terça-feira, 23 de abril de 2024

Bahia Farm Show: um palco para a festa do PIB do agronegócio – por José Lopes

A festa pelo crescimento de 4,7% no PIB do agronegócio brasileiro no primeiro trimestre de 2015 em relação ao trimestre anterior, divulgado pelo IBGE na última sexta-feira (29), já tem um palco. É a 11ª edição da Bahia Farm Show, maior exposição agropecuária do Norte e Nordeste, que começa na próxima terça-feira (02) e vai até o sábado (06), no município de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste Baiano.

Apesar de todo o otimismo do setor com o dólar valorizado, preços de commodities competitivas, a formalização da fronteira agrícola do Matopiba e a expectativa de um recorde no aporte de recursos no Plano Safra 2015/2016 em torno de R$ 180 bilhões (aumento de 15,4%), a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), entidade organizadora do evento, já divulgou nota à imprensa afirmando que a expectativa é de que o volume de vendas na feira deste ano seja semelhante aos R$ 1 bilhão alcançados em 2014.

Tudo isso justifica as previsões animadoras do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea/Esalq), que apontam um crescimento de 2,8% a 3,5% no PIB do agronegócio em 2015.

O cenário interno, entretanto, repleto de incertezas quanto ao ajuste fiscal do governo, não é de muita festa: os juros estão mais elevados, o mercado interno está praticamente estagnado, sem falar do aumento do desemprego e da estagnação dos salários, fatores estes que diminuem significativamente o consumo.

A boa notícia fica por conta da safra de soja, carro-chefe do setor, que deve atingir este ano o recorde de 90 milhões de toneladas. A moagem da cana-de-açúcar nas usinas do Centro-Sul também deve atingir 580 milhões de toneladas, superando o recorde de 570 milhões de toneladas do ciclo anterior.

Mesmo assim, relatório divulgado recentemente pela empresa de consultoria AGR Brasil recomenda cautela aos produtores também no cenário externo. Segundo a consultoria, a demanda da China, principal destino dos grãos brasileiros – sobretudo da soja -, está lenta, o que abre “espaço” para a exportação no final de maio e junho, algo raro nesta época do ano.

A AGR Brasil acredita que o mercado de commodities agrícolas está no início de um novo ciclo que favorece compradores mundiais, que, com clima relativamente normal, pode durar algumas safras. O papel do mercado nos próximos meses e anos é incentivar a demanda ou corte de produção através de preços mais baixos – diz o relatório.

Os preços do leite em pó, abaixo do piso no mercado internacional, e a dificuldade de venda das amêndoas de cacau para a indústria são sintomas que já podem ser observados na economia baiana, sobretudo na região Sul do estado.

O Toda Bahia publicou recentemente matérias que mostram as dificuldades tanto de produtores de leite (Produtores de leite do Sul da Bahia esperam resposta da Nestlé), quanto de cacauicultores (Vendedores alegam que indústrias criam entraves para não receber cacau) em venderem seus produtos e, mais ainda, de garantirem um preço justo no mercado.

É tempo, portanto, de colocar em prática aquele velho ditado ensinado pelos mais antigos de que “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”. Uma boa semana a todos.

José Lopes é jornalista, diretor executivo do Toda Bahia e escreve sobre agronegócio aos domingos. E-mail: j.lopes@todabahia.com.br

31 de maio de 2015, 15:00

Compartilhe: