quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ao contrário do Brasil, a Argentina busca alternativas – por Rommel Cavalcanti

Enquanto o atual cenário político e econômico do Brasil afunda o país em uma crise sem precedentes e não nos permite vislumbrar nenhuma saída clara do imbróglio em que a péssima administração fiscal da última década nos colocou, um dos nossos vizinhos sulamericanos – a Argentina – está trabalhando fortemente para tentar corrigir as burradas cometidas por péssimos gestores públicos num passado recente. E, ao que parece, tem tudo para melhorar sua situação econômica em breve.

Os argentinos conviveram com um processo bastante peculiar em sua realidade socioeconômica nos últimos vinte e cinco anos. Em 1991, no governo Carlos Menem, o então homem forte da economia, o ministro Domingo Cavallo, concebeu o plano de conversibilidade com câmbio fixo, determinando por lei a paridade do valor do dólar e do austral e, posteriormente, do peso argentino (cada peso passava a valer um dólar).

O regime de conversibilidade funcionou bem nos primeiros anos seguintes à implantação do plano. Mas, em meados da década de 90, os países emergentes passaram a sofrer ataques especulativos. O temor de que essas nações não conseguissem honrar seus compromissos gerou pânico entre os investidores internacionais. O resultado de tudo isto foi uma fuga em massa de dólares dos países emergentes, dentre eles, a Argentina.

A perda expressiva de reservas cambiais afetou o regime de conversibilidade argentino, desvalorizando o peso e encarecendo o crédito, embora o governo mantivesse artificialmente a paridade monetária. Os reflexos negativos desse processo sobre o setor produtivo não tardaram a aparecer e o país entrou em recessão, com substancial aumento do desemprego. Consequentemente, as receitas tributárias caíram, enquanto os gastos públicos subiam, gerando desequilíbrio nas contas públicas, déficit fiscal e o crescimento da dívida pública.

A saúde da economia argentina foi sendo corroída continuamente até chegar ao ano de 2001 completamente deteriorada. Com o sistema financeiro aos frangalhos, os saques bancários foram limitados para evitar uma quebradeira geral dos bancos. Não era mais possível retirar dólares. As compras em cartão de crédito estavam liberadas, mas faltava dinheiro nas ruas. O país vivia um caos social, com ondas de greves, saques a supermercados e lojas, manifestações e desordem em todas as cidades, mesmo com o governo decretando estado de sítio.

Em meio ao tsunami econômico, social e político, inclusive com queda do governo instituído, a Argentina decreta, em 2002, a moratória total da dívida externa e o fim do regime de conversibilidade, fazendo o dólar disparar. Outras medidas tomadas para conter o debacle total do sistema, que incluíram o confisco de recursos das famílias, resultaram em empobrecimento generalizado, fechamento de diversas empresas e inflação altíssima de 40%. Ao final daquele ano, a pobreza alcançava 57,5% da população e a indigência superava os 27%, com 21,5% de desempregados.

A duras penas, o país sobreviveu nos anos seguintes. A moratória tirou a Argentina do mercado de crédito internacional, obrigando-a a recuperar-se com suas próprias forças, o que foi muito mais demorado e penoso. Para se ter uma ideia do preço pago pela má gestão, em 2009, o PIB era quase do mesmo tamanho daquele registrado em 1998.

O país ainda luta para reingressar no mercado financeiro internacional, embora já tenha negociado suas dívidas com 93% dos seus credores internacionais, que aceitaram um desconto substancial para pagamento da dívida. Os 7% restantes são os fundos “abutres”, assim chamados porque adquirem com deságio e a preços aviltantes os títulos de países que enfrentam dificuldades financeiras para, posteriormente, cobrá-los na justiça pelo preço nominal, alcançando ganhos expressivos.

Na última segunda-feira (29), o governo de Maurício Macri anunciou que fechou um acordo para pagar 4,65 bilhões de dólares a esses fundos, o qual ainda precisa ser aprovado pelo Congresso até o dia 14 de março. Após a aprovação, a Argentina, enfim, retomará a sua posição no mercado de crédito, voltando a ter acesso a recursos externos para financiar o crescimento econômico, reativando a economia e reduzindo a inflação.

02 de março de 2016, 17:00

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