sexta-feira, 19 de abril de 2024

Acho que tenho muitos defeitos no corpo, isso é normal? – por Dr. José Amandio

“Eu acho que meu nariz é muito grande… Minha boca é muito fina… Não acha que minhas pálpebras estão muito caídas… Meus seios são muito pequenos… Estou muito gorda… Não acha que preciso de uma lipo?”

Essas questões são rotineiras no consultório de cirurgia plástica e não soariam anormais se não viessem de uma bela garota, longilínea com um corpo de dar inveja a várias colegas.

Podemos estar diante de um quadro de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). O TDC anteriormente designado por dysmorphophobia, síndrome dismórfico, hipocondria dermatológica ou não-doença dermatológica em vários contextos – é uma doença psiquiátrica relativamente comum e, muitas vezes grave.

A característica essencial do Transtorno Dismórfico Corporal é a preocupação com um defeito imaginário na aparência ou preocupação desproporcional com uma ligeira anomalia física. Por definição, TDC causa sofrimento ou prejuízo significativo em áreas importantes de funcionamento.

As áreas de imperfeições mais comumente percebidas no TDC incluem a pele, o rosto, o nariz, a boca, os cabelos, as pálpebras, as rugas, as acnes, a oleosidade excessiva, o excesso de pelos faciais, os dentes, a mordida de mandíbula, os seios, os órgãos genitais, as nádegas e os lábios.

O quadro clínico tipicamente pode ilustrar muitos dos seguintes comportamentos: comportamentos ritualísticos destinadas a confirmar o “defeito” ou evitar seu reconhecimento pelos outros; necessidade de constante reafirmação de outros; dispêndio de tempo considerável (1 hora ou mais, às vezes tanto quanto 8 horas) diariamente em pensamentos e comportamentos relacionados com o “defeito”; repetida de procura de tratamentos cosméticos ou encaminhamento para a correção do “defeito”.

Algumas questões podem ser úteis para avaliar a susceptibilidade de ter TDC:
1. Você está preocupado(a) sobre como você olha? (Sim ou Não);
2. Se você está preocupado(a), você pensa sobre seus problemas de aparência muito e gostaria que você pudesse pensar sobre eles menos? (Sim ou Não)
3. Quanto tempo por dia, em média, você passa a pensar em como você olha?
(a) menos de 1 hora por dia;
(b) 1-3 horas por dia;
(c) mais de 3 horas por dia
4. Sua principal preocupação com a forma como você olha que você não é se você é muito magra ou que você pode se tornar muito gordo? (Sim ou Não)
5. Como esse problema com a forma como você olha afetou sua vida?
(a) muitas vezes tem te incomodado muito;
(b) algumas vezes atrapalha, mas tem conseguido na maneira de fazer as coisas com os amigos, sua família, ou namoro;
(c) lhe causou problemas com a escola ou trabalho;
(d) atrapalha a ponto de evitar algumas coisas por causa de como você olha.

O diagnóstico de TDC é clínico. Quando houver suspeita, o paciente deve ser encaminhada para uma avaliação psicológica ou psiquiátrica. O tratamento pode requerer medicamentos associados a psicoterapia.

Os estudos sugerem que mais de 90% dos pacientes que relataram sintomas de TDC, não perceberam alterações e frequentemente exacerbavam as queixas após procedimentos cirúrgicos. A cirurgia plástica ou cosmética destinada para corrigir o defeito percebido em TDC é contra-indicada.

Em todos os casos suspeitos de TDC, qualquer tratamento cirúrgico proposto deve ser cuidadosamente documentado e discutido com pacientes e avaliado por um especialista.

Dr. José Amandio é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialista em cirurgia plástica. Ele é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Santa Izabel e escreve quinzenalmente a coluna de saúde do Toda Bahia. E-mail: clinicajamandio@gmail.com

20 de setembro de 2015, 07:45

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