quinta-feira, 25 de abril de 2024

A economia e a crise do populismo de centro-esquerda – por Rommel Cavalcanti

Na última década, vimos ascender ao poder nas frágeis democracias da América do Sul uma série de governos populistas de centro-esquerda vocacionados à implantação de programas sociais. Nominou-se “onda rosa” esta tendência política, que fez recrudescer uma forma característica de gerir e conduzir as ações do Estado na região.

Venezuela, Bolívia e Brasil são exemplos característicos deste modelo político e de condução da coisa pública, guardadas, obviamente, as diferenças intrínsecas e as nuances próprias, socioeconômicas e históricas de cada processo.

Politicamente, esses três governos, sem exceção, foram conduzidos por um líder populista e carismático, oriundo das camadas sociais médias ou baixas, com discurso acessível aos mais pobres e menos instruídos. Dado este perfil, tais líderes eram capazes de angariar a simpatia de grande parte da sociedade (incluindo algumas parcelas da população mais abastadas e instruídas que desejavam mudanças) e, em consequência, chegar ao poder através do voto.

No início dos anos 2000, encontraram terreno fértil para chegar ao poder. Na década anterior, a região havia sido dominada por governos neoliberais que não conseguiram responder aos anseios por avanços sociais necessários e relevantes, os quais há algum tempo são desejados pela grande maioria dos cidadãos daqueles países.

Por outro lado, observamos um período de ouro para as economias sul-americanas até o ano de 2010. Em primeiro lugar, um “superciclo” de valorização das commodities no mercado internacional, principais produtos de exportação daqueles países. Em segundo lugar, para completar a bonança, a mais que benéfica abertura ampla do mercado chinês.

Durante este período de fartura, diversos programas sociais foram implantados. Com a economia aquecida e a arrecadação de impostos em alta, recursos públicos não faltavam para financiar projetos sociais assistencialistas. A renúncia fiscal para facilitar o acesso dos mais pobres a bens de consumo tornou-se prática comum.

Pouca preocupação se teve em preservar os fundamentos da economia para dar sustentabilidade aos programas que se propunham a melhorar as condições sociais. Da mesma forma, a gestão pública foi relegada a segundo plano, as despesas públicas explodiram e o equilíbrio fiscal foi desprezado. Qualquer turbulência econômica que comprometesse a arrecadação de impostos e reduzisse a receita pública, levaria todo o modelo ao debacle.

A partir de 2010, as condições econômicas foram se deteriorando. O panorama internacional se transformou. Os preços das commodities caíram e a economia chinesa desacelerou.

O reflexo interno nas economias dos países da América do Sul tem sido perverso. Por não cuidar dos fundamentos econômicos e do equilíbrio fiscal, os governos populistas se viram numa encruzilhada: ou negavam seus modelos e promoviam medidas duras e impopulares na economia e na área fiscal ou enfrentariam fortes turbulências internas derivadas de recessão e desemprego. Ficaram com a primeira opção…

É certo que populismo e economia não combinam. A coisa pública deve ser administrada de forma técnica e menos política, mas isto não é cabível em um governo populista. A atual experiência do Brasil e da Venezuela, em extrema crise econômica, social e política são prova disso.

Rommel Cavalcanti é graduado em Economia e Direito, Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, com MBA em Economia pela George Washington University e especialização em Gestão de TIC, Direito do Trabalho e Direito Processual. Ele é auditor fiscal pela Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) e escreve sobre economia às quartas-feiras no Toda Bahia. E-mail: rommelcavalcanti@yahoo.com.br

04 de maio de 2016, 13:00

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