sexta-feira, 29 de março de 2024

A crise chega ao campo – por José Lopes

O IBGE divulgou esta semana uma previsão de crescimento de 8,6% da safra de grãos 2014/2015, mas já são nítidos os sinais de que a crise econômica que afeta o País também chegou ao campo.

O governo sustenta a tese de que esse aumento na produção de grãos – puxada pelo arroz, milho e soja – será capaz de “animar” os agricultores a realizar investimentos para a próxima safra e que o crescimento de 4% no crédito rural registrado nos meses de julho e agosto seria o primeiro indicador nessa direção.

O curioso é que um levantamento realizado também em agosto pela consultoria Informa Economics FNP revela uma redução de 6,6% na área da safra verão de milho, o que corresponde à utilização de menos 5,6 milhões de hectares para a safra 2015/2016.

Como já tratei em coluna anterior (O difícil e lento financiamento da safra em um ano de crise), o cenário no campo não é tão animador quanto o governo quer fazer acreditar. A desaceleração está ocorrendo em consequência do aumento dos juros bancários e, principalmente, do aumento da burocracia para se fazer a liberação do dinheiro. Sem falar do aumento dos insumos e defensivos agrícolas como consequência da forte desvalorização do real frente ao dólar.

No setor da cafeicultura, por exemplo, as exportações caíram 8,4% em agosto. Os cafeicultores de Minas Gerais, estado que é referência na produção dessa commoditie, não conseguiram ainda garantir a compra de insumos para a próxima safra.

A recente redução da nota de investimento do Brasil pela agência Standard & Poor’s também acendeu a luz amarela para a fuga de investidores estrangeiros no País e breca a expansão do setor agropecuário.

Mas é importante dizer que a culpa da crise ter chegado ao campo não é apenas da condução da economia pelo governo brasileiro. A desaceleração da economia chinesa já provoca um efeito em cadeia sem precedentes na economia mundial.

Um sinal claro dessa brecada no consumo em escala global foi percebido no índice mensal de preços da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que registrou em agosto a maior queda no preço de alimentos nos últimos sete anos. Segundo o órgão, essa queda afeta produtos como leite, óleos vegetais, açúcar e cereais, que perderam 15% do valor em um ano.

Na Bahia, os agricultores têm que lidar com um outro adversário devastador: a seca prolongada. Segundo o site do Ministério da Integração Nacional, atualmente, 149 municípios baianos estão em situação de emergência devido à estiagem prolongada (clique aqui para ver a relação completa).

Uma situação que se repete pouco mais de um ano depois da pior seca registrada nas últimas décadas e que provocou, segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB), prejuízos superiores a R$ 4 bilhões somente em nosso estado.

Outro indicador de que a economia baiana não vai bem foi divulgado esta semana pela Federação do Comércio na Bahia (Fecomércio). Segundo a entidade, as vendas no setor caíram 11% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período em 2014, o que corresponde a um prejuízo de R$ 3,6 bilhões.

Talvez a presença de três ministros do governo Dilma – Kátia Abreu (Agricultura), Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) e Gilberto Occhi (Integração Nacional) – já confirmadas no evento Agropec Semiárido – IV Congresso Brasileiro de Palma e Outras cactáceas, que começa nesta segunda-feira (14), em Salvador, consiga trazer algum alento e contagiar um pouco os produtores baianos com a “animação” chapa branca.

José Lopes é jornalista, diretor executivo do Toda Bahia e escreve sobre agronegócios aos domingos. E-mail: j.lopes@todabahia.com.br

13 de setembro de 2015, 07:40

Compartilhe: