A atualidade de “O Retrato” – por Gustavo Falcón
Sempre recomendo aos amigos que se iniciaram na esquerda a leitura de uma clássico baiano chamado “O Retrato”, de autoria de um ex-comunista, Osvaldo Peralva, melhor diagnóstico que conheço do quadro neurótico de formação da militância revolucionária.
Esse trabalho foi escrito no contexto na desqualificação da ex-União Soviética, idolatrada durante décadas pela esquerda internacional como a pátria da revolução socialista e vanguarda dos povos pela libertação da opressão. Peralva mirou em dois alvos: na mentira da máquina da propaganda comunista e na estupidez da intelectualidade em assimilar a mistificação de uma dita ditadura proletária que não passava na verdade de um regime totalitário que massacrou milhões de pessoas em nome de uma alegada redenção socialista.
A farsa bolchevique persistiu e no gueto da “ultra esquerda” projetou-se sobre o populismo sindical constituindo uma ideologia trabalhista-libertária, cuja missão foi atualizar o esquerdismo bolchevique na realidade miserável dos países dependentes. Disso resultou o socialismo do século XXI ou a social-democracia latina que sucedeu aos movimentos anti-coloniais e africanos, todos desaguados em ditaduras ferrenhas e corruptas.
Cá entre nós, uma surpresa: a aliança da esquerda revolucionária, portadora dos valores marxistas, com o movimento popular, levou à degeneração do fisiologismo, momento onde mais valeu a pilhagem do Estado em nome da ascensão social do que a revolução social.
De um jeito ou de outro, “O Retrato” continua sendo uma leitura recomendável para os que acreditaram e os que sucumbiram com a picaretagem do socialismo moderno. A farsa lulo-petista é uma projeção da mentira comunista construída às expensas da política soviética dos anos 50. Tudo velho lá fora e carcomida cá dentro.
Gustavo Falcón é jornalista, escritor, doutor em História Social pela UFBA e consultor de Programas de Governo. Ele escreve sobre Política às segundas-feiras no Toda Bahia. E-mail: gustavo.falcon@todabahia.com.br
